quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Arte Greco-Romana

Texto produzido para a Plataforma Gonçalves Dias, o curso pré-vestibular online do Governo do Esttado, By Francisca Costa.


Ao longo da história da humanidade, absorvemos, influenciamos ou somos influenciados (as) por culturas que mantivemos algum tipo de contato. A arte coexiste em todas as partes do globo, mas a história da arte, como um esforço contínuo, não tem seu princípio ou fim definido.

Na verdade, há a continuidade transmitida de mestre a discpulo, de discípulo a admirador ou copista, o que ligaria a arte do vale do Nilo de cerca de cinco  mil anos à produção do povo grego, que em sua fase mais antiga remonta às características da arte egípcia, que por sua vez remonta às características da arte na Mesopotâmia. Vemos que os mestres gregos “frequentaram” a escola dos egípcios (parafraseando o historiador de arte austríaco Ernst Hans Josef Gombri ch), que todos nós somos discípulos dos povos gregos e também dos povos romanos que foram influenciados de forma linear e transitória pelos mesmos.

A influência dos gregos e romanos pode ser verificada por toda a história da humanidade, a partir de sua própria existência até os dias atuais. E não fazemos referência apenas à influência na lingua portuguesa, mas em extensas referências, encontradas em todos os segmentos da vida em sociedade.

Há um verdadeiro devir em torno da arte greco-romana, como podemos perceber no estudo da Idade Média, negando seus preceitos e cânones,  depois resgatados nos períodos posteriores como o Renascimento (cuja nomenclatura já os requisita de forma direta, no século XIV) e o Neoclassicismo (em que a nomenclatura os  trata como o “novo clássico”, fomentado pela descoberta das ruínas da cidade de Pompéia,   soterrada pelas lavas do vulcão Vesúvio), reencontradas em meados do século XVIII.

Imagem mostra que as esculturas expostas no local, hoje museu a céu aberto, foi na verdade fruto do preenchimento dos espaços vazios do corpos soterrados decompostos com o tempo.


Constatamos a História sempre negando ou exaltando os “clássicos” nas mais diferentes representações artísticas, culturais e sociais. A palavra clássico deriva do latim classicus, que significa um cidadão da mais alta classe, de extremo valor, segundo o pesquisador da história da música, Roy Bennett. 

Desta forma, costumamos reportar o termo a obras com grande estima e reconhecimento universal: _Shakespeare é            um “clássico” da literatura!

Os gregos e romanos são “clássicos” para a filosofia, sociologia, matemática, política, música, arquitetura, escultura e para a literatura, pois  são  referência e base para a nossa cultura geral.

A arte grega costuma ter seu estudo dividido em três períodos que demarcam, em sua temporalidade, modificações substanciais, acréscimos de definições e rebuscamentos.

Período Arcaico

Nos primeiros séculos, a produção escultórica do povo grego se assemelhava a dos egíp- cios em rigidez. Sabemos que os egípcios baseavam sua arte no reconhecimento de si mesmos. Mas os  gregos faziam as representações de si cada vez mais realistas. Uma vez iniciada essa revolução, os escultores em suas oficinas ensaiaram novas ideias e novos modos de composição da figura humana, cada inovação era avidamente adotada por outros. 

O homem jovem era representado (essas estátuas eram chamadas de “Kouros”) e as moças eram representadas vestidas (korés).

A sua cerâmica era decorada com padrões geométricos simples e, quando se queria re- presentar uma cena, esta formava parte do desenho com austeridade e rigor.

Período  Clássico

No período clássico, a arte passa a apresentar grande apuro técnico, com a criação de cânones e regras para a representação pautada na natureza, tanto para figura humana quan- to para a arquitetura e a pintura. Com a utilização de formas idealizadas, mais belas que o normal, representação de atletas em pleno movimento e mulheres com vestes esvoaçantes, como representação dos deuses (os gregos eram politeístas!), tudo podendo ser detalhado em esculturas que servem como enfeites dos templos. 

Neste período, percebemos maior indução de movimento nas estátuas, para isto, começa a utilização do bronze que era mais   resistente do que o mármore, podendo fixar o movimento sem que os membros (braços, pernas) se quebrem (como acontecia na utilização do mármore). Na pintura da cerâmica, há o destaque no uso de tintas vermelhas sobre o fundo negro, percebemos a pintura com maior dinamismo, realismo, naturalismo e expressividade. 

Foi o período em que a democracia ateniense atingiria seu nível mais eleva- do e que a arte grega deu início a um grande desenvolvimento. 

Período Helenístico

O período helenístico teve influência oriental, da macedônia, com a arte mais decorativa e suntuosa quando o apogeu técnico, estético e conceitual do povo grego foi atingido e, por fim, seu declínio. 

Nesse período, aprimoraram uma multiplicidade de usos e técnicas, como a da encáustica sobre gesso e mármore pela aplicação de cera derretida, criação de mosaicos, que adquirem detalhismo e refinamento. 

As esculturas ganham intensa expressividade e teatralidade, emotividade e riqueza de detalhes, feitas em bronze (o domínio da técnica escultórica em mármore será alcançado apenas pelos romanos, que copiarão as obras gregas e usarão o bronze para fazerem armamentos). A arte helênica conservou ainda algumas direções clássicas puras idealizadoras do objeto, mas a tendência, todavia, é para o aumento de imaginação e liberdade, a arte passa a superar o equilíbrio clássico, por sua dinamicidade.

 

A arquitetura tinha seu planejamento matematicamente calculado. Nos templos eram colocadas esculturas decorativasfrisos e frontões na base dos telhados (observe na imagem do templo). Eram muitas vezes pintadas em cores vivas, mas praticamente nada dessa decoração chegou até nós. Este modelo repercutiu largamente em todo o território grego, assumindo, porém, mui tas variações que dependiam de preferências locais ou do orçamento disponível, com regras de composição pautadas na precisão geométrica do uso do retângulo áureo, inventado para melhor simetria de área, o que hoje nos serve de base para o simples corte de uma folha de papel - o tamanho A4 por exemplo, no caderno que utilizamos para escrever (A5 com a metade do tamanho), e no cartão do banco, que passamos no caixa eletrônico para pagar nossas compras também há as medidas do retângulo áureo).
Na arquitetura grega foram desenvolvi- dos três estilos ou ordens: a ordem dórica, jônica e a coríntia (empregadas respectiva- mente nos períodos arcaico, clássico e he lenístico).
Outra das invenções importantes da ar quitetura grega foi o anfiteatro, geralmente construído na encosta de uma colina, aproveitando as características favoráveis do terreno para ajustar as arquibancadas semicirculares. No centro do teatro ficava a orquestra, ao fundo, o palco, decorado com um cenário arquitetônico fixo.
No âmbito das artes cênicas, os gregos fundaram gêneros que até hoje organizam as várias modalidades do teatro contemporâ- neo. A tragédia e a comédia aparecem como textos em que os costumes, instituições e dilemas da existência eram discutidos através da elaboração de narrativas e personagens bastante elaboradas. Tendo grande prestigio entre a população, o teatro atraía os olha- res de várias pessoas que se reuniam para admirar e discutir as peças encenadas publicamente.

Teatro Grego de Taormina


Arte Romana

A estética romana teve por base a cultura greco-helenística, que aos poucos foi adquirindo características próprias, na construção de uma arte que atendia com praticidade o modo de vida e necessidades dos romanos. A temporalidade é aproxima- da de 753 a.C. (quando a cidade de Roma é fundada) até 476 d.C. (com o fim do Império  Romano, um império que durou cerca de mil anos).

Assim como os gregos, os romanos eram politeístas, absorvendo a mesma religio- sidade e suas características, adotando a mudança dos nomes de alguns deuses do panteão grego. Afrodite se transformou em Vênus, Ares virou Martes, Hera esposa de Zeus - foi chamada de Juno pelos romanos e o Zeus grego (soberano do olimpo), se converteu em Júpiter.

Herdeiros da arte grega, os romanos espalharam suas esculturas, pinturas e mosaicos por todo território que conquistavam, igualmente, construíam teatros onde podiam ser re- presentadas peças que serviam para instruir e divertir a população. Em algumas cidades eram levantadas arenas para jogos de gladiadores, recriações de batalhas, lutas entre ho- mens e animais selvagens (o anfiteatro romano era construído a céu aberto e em vários pavimentos, diferente do grego que aproveitava o relevo das encostas de montanhas).

A arquitetura romana deriva da arquitetura grega, embora diferenciando-se por algumas características ou agregando-as, por isso alguns autores agrupam ambos estilos designan- do-os por arquitetura clássica. Alguns tipos de edifícios característicos deste estilo propa- garam-se por toda a Europa, em particular, o aqueduto, a basílica, a estrada romana, o do- mus, arcos do triunfo, e o Panteão. Os monumentos romanos se caracterizam pela solidez, aprenderam com os etruscos o emprego do arco, assim como a abóbada ou teto curvo e o cimento hidráulico. Construíram também catacumbas, fontes, obeliscos e templos.


Aqueduto de Kavala

    Os romanos abastados prezavam pelo conforto e, geralmente, nas casas dos patrícios havia água encanada. Se o rio não estivesse perto da cidade, um aqueduto era levantado para trazer água à população que a recolhia nas fontes instaladas na cidade. (Aquedutos são sistemas de transporte de águas feitos na forma de pontes, sustentadas por arcos su- perpostos).
As termas eram as casas de banho, que usavam água aquecida, caracterizando alto grau de higiene dessa civilização.
Roma propiciou a primeira experiencia republicana da história. A Civilização ainda con- tribuiu grandemente para o desenvolvimento do direito, arte, literatura, arquitetura, tecno- logia, religião, governo, e da linguagem no mundo ocidental, sua história continua a ter uma grande influência sobre o mundo de hoje.
Na técnica como expressão, a pintura romana é uma variante da pintura grega das fases clássica e helenística. Apenas, por ser de caráter prático, o romano acentuou as finalidades decorativas, aplicando com maior frequência à arquitetura, dando-lhe forte re- alismo.
Pintura “Quíron e Aquiles”   da cidade de Herculano
Imagem da pintura “Quíron e Aquiles”, um afresco da cidade de Herculano, soterra da pelo vulcão Vesúvio, hoje a cidade é um museu à céu aberto, Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, na Itália. O centauro Quíron ensina Aquiles a tocar a lira.
Os afrescos da cidade de Pompéia, so terrada também pelo vulcão Vesúvio no séc. I a.C., representam bem este período antigo, na pintura mural, na forma de afrescos. Com cenas do cotidiano, figuras mitológicas, reli- giosas e conquistas militares. Usavam tintas feitas com materiais retirados da natureza, como de metais ou pedras em pó, substâncias retiradas da madeira ou extraídas de moluscos, vidros pulverizados e seivas de árvores. Afresco é uma técnica de pintura mural, executada sobre uma base de gesso, cal ou argamassa ainda úmida, por isso, o nome derivado da expressão italiana fresco.
de mesmo significado no português, no qual o artista deve aplicar pigmentos puros diluídos somente em água. Dessa forma, as cores penetram no revestimento e, ao secarem, passam a integrar a superfície em que foram aplicadas e ganham grande durabilidade.


As pinturas chamadas “trompe l’oeil” (que significa ilusão de ótica) se tornaram mais usuais e variadas, com a multiplicação de elementos simulados de arquitetura, oferecendo vistas de paisagens urbanas e jardins, evidenciando um uso bastante correto da perspectiva para dar a impressão de tridimensionalidade e ilusionismo ao ambiente.
A Escultura romana também é fortemente inspi- rada na grega. Algumas estátuas representavam o imperador ou chefes políticos e militares famosos e eram colocadas em lugares públicos, outras representavam deuses. Também foram esculpidos bustos, retratando membros das famílias imperiais ou abas tadas e baixos-relevos narrativos em arcos de triunfo e colunas, como forma de comemorar os feitos notáveis do Imperador.


Imagem “Augusto de Prima Porta”, mármore, 2,08 metros, 0,12 metro x 1,3 metro, localizado no Museu do Vaticano.

Este texto é complementado com os outros dois artigos sobre as referências clássicas:

 QUESTÕES DE PROVA COM O TEMA:

Questão 1 (Ueg 2013)

Analise a imagem ACIMA.

Augusto de Prima Porta, esculpida por volta de 19 a.C., é uma típica escultura da Roma antiga. A diferença dessa escultura em relação às gregas do período clássico está:

 

a)   na monocromia, indicando maior austeridade dos costumes roma nos em comparação com os dos gregos.

b)    na postura ereta e estática, demonstrando que as esculturas 

gre gas retratavam o movimento dos corpos.

c)   no caráter político,  que as esculturas gregas priorizavam temas  

da mitologia religiosa.

d)    no uso da indumentária militar na composição da obra, uma vez que as esculturas gregas valorizavam o corpo humano.


 Resposta: Letra C



Questão 2 (UFSM 2012)

Observe a primeira imagem deste artigo,

com base nas gravuras, reflita a respeito da  Antiguidade Clássica e analise as 

afirmati vas a seguir.

I.A Civilização Grega não sofreu influência dos egípcios nem dos povos do Oriente Médio. Sua cultura esgotou-se entre os gregos e sua originalidade foi reconhecida apenas com o Renascimento Cultural.

II.A arte do período clássico evidenciou  ideal grego de harmonia e equilíbrio, 

per cebido tanto na representação da figura humana quanto no projeto de sociedade, a pólis.

III.A arte do período helenístico

expressou uma dramaticidade que pode ser entendi da como expressão das tensões do mundo.

IV.Ao conquistar e dominar as cidades gregas, o Império Romano manteve o seu projeto original (oriundo das culturas itálicas) e ignorou a cultura helênica.


Está(ão) correta(s)

a)   apenas I e II.

b)   apenas II e III.

c)   apenas I, II e III.

d)   apenas III e IV.

e)   apenas IV.

Resposta: Letra B


 Questão 3 (Enem 2011)

imagem: Direitos de autor: © 2013 Francisco Aragao

Brasília 50 anosVeja. N° 2 138, nov. 2009.

Utilizadas desde a Antiguidade, as colunas,  elementos verticais de sustentação, 
foram   sofrendo modificações e incorporando novos  materiais com ampliação de 
possibilidades. Ainda que as clássicas colunas gregas sejam retomadas, notáveis 
inovações são perce bidas, por exemplo, nas obras de Oscar Nie meyer, arquiteto 
brasileiro nascidono Rio de  Janeiro em 1907. 

No desenho de Niemeyer, das  colunas do Palácio da Alvorada, observa-se:
a)   a presença de um capitel muito simples, re forçando a sustentação.
b)    o traçado simples de amplas linhas curvas opostas, resultando em formas marcantes.
c)   a disposição simétrica das curvas, conferindo saliência e distorção à base.
d)   a oposição de curvas em concreto, configurando certo peso e rebuscamento.
e)   o excesso de linhas curvas, levando a um exagero na ornamentação.

 Resposta: Letra B

 

REFERÊNCIAS

BOZZANO, Hugo B. Arte em interação. Volume único. São Paulo: Ibep, 2013.

COSTA, Francisca. Arte Grega. Disponível em : https:/ drive.google.com/file/d/1zHAS4iTVIOy8x75w_IL_8s0zPb- V15ek-/view?usp=sharing. Acesso 14 de agosto de 2020.

DOMINICI, Marcos. Grécia Artes Visuais. Disponível em: https:/ drive.google.com/file/d/1bvRX4PVTsUVSNR- xBuk4JLQaB-OO1Ps1t/view?usp=sharing. Acesso 14 de agosto de 2020.

Disponível em: Enciclopédia Itaú cultural: http:/ enciclopedia.itaucultural.org.br/termo26/afresco. Acesso 14 de agosto de 2020.

FERRARI, Solange dos Santos Utari. Arte por toda parte: volume único. 2. Ed. São Paulo: FTD, 2016. GOMBRICH, E. H. A História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

REIS, Eliana Vilela dos. Manual compacto de Arte ed. Rideel 2010.