Os documentários, baseados no livro O Povo Brasileiro do pesquisador
e antropólogo Darcy Ribeiro, abrem alas para uma forma diferente de ver a formação do Brasil. Dividem a obra em
partes distintas, identificadas como matrizes (indígena, portuguesa, africana, dentre outras).
A formação pela matriz lusitana mostra um Brasil por suas heranças multiculturais trazidas pela colonização portuguesa, cuja nascente
configura a própria formação da nação portuguesa!
Para entendermos o processo que desencadeou a fundação do Estado Português,
devemos remontar os acontecimentos que retratam a disputa entre os Romanos, os
Lusitanos e Cartagineses pela Península Ibérica, as invasões bárbaras e a
“reconquista”; além da importante presença muçulmana na região.
Em Roma...
Os romanos eram povos oriundos da península itálica e se destacavam pelo
fato de possuírem um poderoso exército, o que lhes garantiram conquistar e
construir um grande império. O seu centro de poder era o Mar Mediterrâneo. Todos os territórios e regiões em sua volta foram dominados
progressivamente. Primeiro, toda a península itálica, depois a Grécia, Gália e
finalmente Cartago. A ponto de se
expandirem na África, Europa e Ásia.
No ano de 218 a.C, os romanos chegaram à península ibérica entrando pela
região onde hoje fica a Espanha. Queriam aumentar o seu domínio na região para
ter acesso às riquezas minerais e recrutar escravos para os trabalhos nas
cidades em franco crescimento.
Entre os povos que mais resistiram estavam os lusitanos liderados pelo
valente Viriato. Contam as narrativas históricas que o guerreiro só fora
vencido pela traição de dois dos seus, que foram, para tanto, subornados pelo
general romano. Após a vitória, a
anexação completa da península. Que fora dividida em três reinos: Tarraconense,
Luzitânia e Bética.
Os romanos permaneceram na península ibérica por cerca de 700 anos,
influenciando, com o seu modo de vida, todos os povos conquistados. Tal
influência ficou evidente, especialmente, na língua – o LATIM – que substituíra
as línguas nativas; nas leis que foram substituídas pelo direito romano; nas
técnicas de construção de e de edificação, como as de estradas e pontes; e
planejamento urbano.
Para alguns historiadores, a dominação romana começa a ter fim com
o início das invasões barbaras. Contudo, apenas no plano militar posto que os
povos germânicos absorveram, ou foram absorvidos, rapidamente, pela herança
cultural romana, em especial, a crescente onda cristã.
Bárbaros?
Por volta dos anos 419 d. C estes povos germânicos (Helanos, Vandalos e Suevos) iniciaram as invasões, seguidos pelos visigodos, que chegaram um pouco mais
tarde, em 516 d. C. Ao chegarem eles apoderaram-se das propriedades, submetendo
os antigos donos à condição de servos. É importante notar que diante das novas
relações de poder surge uma nova classe: a Nobreza.
Embora os nobres acumulassem terras e outras posses, lhes faltava o
domínio dos sabres acumulados; conhecimento do latim. Eis um forte motivo para
a aliança com os bispos cristãos (clero),
que representam, de certo modo, a continuação da cultura latina.
Em 711 d. C os árabes entram na península pelo Estreito de Gibraltar,
supostamente incentivados por uma aliança momentânea com uma pequena parte de
guerreiros visigodos insatisfeita. Foram facilmente dominados com exceção
daqueles que se refugiaram nas Astúrias, ao norte da península, de onde, mais
tarde desencadeou-se o processo de retomada do território denominado de A Reconquista.
Acho que somos mais mouros que...
A presença
muçulmana percebida em nossas casas, ruas e costumes – os árabes e os mouros!
É importante fazer uma distinção
entre os Árabes e os Mouros. Os Mouros eram povos que habitavam a Mauritânia
que ficava a noroeste da África, enquanto que os árabes eram provenientes da
península arábica. Embora, a partir do século VII, eles passem a compartilhar a
mesma religião, o islamismo.
A herança cultural deixada pelos dois povos na
península pode ser vista muito abertamente nas artes, na arquitetura, no
vocabulário e principalmente na introdução de técnicas de captação,
armazenamento e distribuição de água, moinhos de vento, espécies de arvores e
frutos nativos do oriente e trazidos por Portugal para o Brasil.
A presença moura era considerada invasora pelos habitantes da península.
A conivência entre muçulmanos e cristãos era bastante conturbada e isso levou
estes últimos a organizarem uma resistência ao norte da península, na região
das Astúrias. A guerra entre cristãos e muçulmanos tomou ares de uma verdadeira
cruzada contra os “invasores infiéis”. A chamada “reconquista”, ao passo que
devolvera aos povos peninsulares as suas propriedades, restituíra o regime de
servidão à antiga nobreza.
O video Matriz Lusa, baseado na obra O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro, narra esta questão em forma de documentário.
Por Francisca Costa.