TAMBOR DE CRIOULA
Patrimônio Imaterial Maranhense
Arte de Romildo Rocha, cedida para ilustrar o material de divulgação do Tambor |
A cultura de um povo agrega um conjunto de manifestações
artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais, possibilitando a origem de
mitos, crenças, histórias populares, lendas, tradições e costumes que são
transmitidos de geração em geração.
O Maranhão se destaca nesse campo, com seu rico e diversificado
patrimônio natural, cultural material e imaterial, sendo a cidade de São Luís
nacionalmente conhecida como uma localidade de grande riqueza artística,
agregando ao longo de seus 411 anos uma extensa diversidade cultural.
Cheia de lendas, mistérios e encantos, além de ter uma riqueza
arquitetônica, cultura popular diversificada por suas raízes ancestrais
pautadas na mistura latente das etnicidades indígena, africana, portuguesa,
francesa e holandesa - pois é a única cidade brasileira fundada pelos
franceses, invadida por holandeses e colonizada pelos portugueses.
A terra de Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Alcione, Zeca
Baleiro, João do Vale e Joãozinho Trinta, carrega, os títulos de Atenas
Brasileira, Ilha do Amor, capital brasileira da Cultura e do Reggae e, claro, o
tombamento como Cidade Patrimônio Mundial da Humanidade.
Esse reconhecimento também se estende ao Patrimônio Imaterial,
como o título do Tambor de Crioula, concedido em 2007 pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN): é Patrimônio Cultural do
Brasil.
Assim, São Luís instituiu o Dia Municipal do Tambor de Crioula
através da Lei Municipal 4.349 em 21 de junho de 2014. E o Governo do Maranhão,
por meio do Decreto 34.718, reconheceu a manifestação como Patrimônio Cultural
Imaterial do Estado, institucionalizando ações de salvaguarda.
Entende-se por salvaguarda de um bem cultural imaterial, as
medidas de promoção, proteção e preservação que preveem a continuidade e
fortalecimento de uma prática cultural.
O Tambor de Crioula é uma manifestação popular que tem como principais elementos os tambores, os cantos e a dança. Estes, atuam reciprocamente formando o conjunto da apresentação.
O Tambor de Crioula é uma manifestação afro-brasileira que tem
como principais características a utilização de 3 (três) tambores: grande, meião e crivador, que formam a “parelha”.
Os tambores possuem diferentes tamanhos e seu manuseio, afinação e toques, para
serem compreendidos, precisam também serem contextualizados com o processo
diaspórico do continente africano.
É ainda, uma forma de resistência, um importante instrumento que
atua na conscientização de que nossas raízes são partes importantes, fundamentais
na formação da nossa identidade histórica.
O Tambor de Crioula é uma manifestação popular atemporal que se
faz presente durante todo o ano, não havendo local específico para sua prática,
acontecendo em terreno de chão batido ou em grandes salões de eventos, palcos
de teatro, praças, entre outros locais.
O antropólogo Sérgio Ferretti (2012) no artigo “O Calor do
Tambor” fala sobre o Tambor de Crioula como uma dança típica do estado do
Maranhão que, por hora, pode ter caráter religioso e profano, as vezes sendo
considerado uma brincadeira realizada em qualquer época do ano, muitas vezes em
prol de pagamento de promessa para São Benedito. O autor afirma que a
expressividade também é chamada de Punga, por conta da marcação do tambor grande
e da umbigada das mulheres que também recebe o mesmo nome e tem que ser no
mesmo tempo.
Na orelha do livro “Tambor de Crioula - Ritual e Espetáculo” (FERRETTI,2002),
Mundicarmo Ferretti conceitua o tambor de crioula como “uma das manifestações
da cultura popular maranhense mais expressiva onde muita brincadeira é
realizada em agradecimento a São Benedito ou para uma entidade, em
agradecimento por uma graça alcançada”.
Além do casal Ferrettti, o pesquisador e entusiasta da Cultura
Popular Domingos Vieira Filho também se manifestou acerca desta manifestação
cultural. Diz no seu livro Folclore do
Maranhão que “O Tambor de Crioula no Maranhão é simples dança para se
divertir, sem a menor pertinência com a religiosidade do negro maranhense e
seus descendentes”. É nesse sentido que se faz necessário desmistificar os
tipos de entendimento sobre esta dança, mostrar aos alunos que essa
manifestação artística representa a cultura maranhense em sua essência, que o
Tambor de Crioula é uma festa que visa à diversão dos participantes por meio da
dança, da percussão e do canto, sendo uma criação efetivada pelos descendentes
dos negros escravizados no Maranhão.
...ASSIM SURGE O TAMBOR
DE CRIOULA QUINTA DAS LARANJEIRAS
O Tambor de Crioula Quinta das laranjeiras surgiu de uma
Disciplina Eletiva dentro da escola de Ensino Médio IEMA Pleno São Luís –
Centro, no ano de 2022. De início, entusiasmando alunos e professores, depois
foi abraçado pela comunidade do Centro de São Luís, que se reúne semanalmente
para os ensaios regados a muita diversão dos brincantes.
A ideia da atividade artística surgiu mesmo da necessidade de
construir uma ponte entre escola e comunidade a partir da cultura, disseminando
os atributos de uma arte ancestral carregada de valores, significados e
pedagogias diversas na transmissão de saberes de forma oral, mas que ainda
precisa transpor os muros da escola em um contexto integrador e
transdisciplinar que reverbera na pluralidade de conhecimentos, dialogando com
a promoção da cultura, da cidadania em diálogo social, por meio da mediação de
saberes ancestrais
É desta forma que o Tambor de Crioula Quinta das Laranjeiras se
insere, estimulando a relação de responsabilidade com a memória, espaço e manutenção
do patrimônio, seus costumes e valores locais a partir das linguagens
artísticas embutidas na manifestação aqui proposta.
Acreditamos que unindo pessoas neste grupo, contribuímos para a
continuidade desta manifestação artística e, ainda, atuamos na desconstrução de
uma visão preconceituoso e intolerante acerca do Tambor de Crioula, uma manifestação
cultural maranhense, Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.
Pintura da Artista Plástica Ana
Borges, representando o Tambor de Crioula.
Romildo Sousa Júnior
Francisca Costa
Lucinda Mamede
Ana Pathrycya da Silva
Pereira
Andreiza Vitoria Costa
Sousa
Dandara Aparecida
Araújo de Sousa
Eduardo Henrique Cunha
Véras
Iara Patrícia Gatinho
Ferreira
Ozias Rikelmy do lago Paurá
Pedro Guilherme Rabelo
Borges
Ricardo araujo
ferreira
Thalison Ramos Coelho
Lima
Sede dos ensaios: Rua Oswaldo Cruz, SN,
Centro.
Fotos: