sábado, 12 de agosto de 2023

TAMBOR DE CRIOULA QUINTA DAS LARANJEIRAS

 

TAMBOR DE CRIOULA

Patrimônio Imaterial Maranhense

 

Arte de Romildo Rocha, cedida para ilustrar o material de divulgação do Tambor

A cultura de um povo agrega um conjunto de manifestações artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais, possibilitando a origem de mitos, crenças, histórias populares, lendas, tradições e costumes que são transmitidos de geração em geração.

O Maranhão se destaca nesse campo, com seu rico e diversificado patrimônio natural, cultural material e imaterial, sendo a cidade de São Luís nacionalmente conhecida como uma localidade de grande riqueza artística, agregando ao longo de seus 411 anos uma extensa diversidade cultural.

Cheia de lendas, mistérios e encantos, além de ter uma riqueza arquitetônica, cultura popular diversificada por suas raízes ancestrais pautadas na mistura latente das etnicidades indígena, africana, portuguesa, francesa e holandesa - pois é a única cidade brasileira fundada pelos franceses, invadida por holandeses e colonizada pelos portugueses.

A terra de Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Alcione, Zeca Baleiro, João do Vale e Joãozinho Trinta, carrega, os títulos de Atenas Brasileira, Ilha do Amor, capital brasileira da Cultura e do Reggae e, claro, o tombamento como Cidade Patrimônio Mundial da Humanidade.

Esse reconhecimento também se estende ao Patrimônio Imaterial, como o título do Tambor de Crioula, concedido em 2007 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN): é Patrimônio Cultural do Brasil.

Assim, São Luís instituiu o Dia Municipal do Tambor de Crioula através da Lei Municipal 4.349 em 21 de junho de 2014. E o Governo do Maranhão, por meio do Decreto 34.718, reconheceu a manifestação como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado, institucionalizando ações de salvaguarda.

Entende-se por salvaguarda de um bem cultural imaterial, as medidas de promoção, proteção e preservação que preveem a continuidade e fortalecimento de uma prática cultural.

O Tambor de Crioula é uma manifestação popular que tem como principais elementos os tambores, os cantos e a dança. Estes, atuam reciprocamente formando o conjunto da apresentação.

O Tambor de Crioula é uma manifestação afro-brasileira que tem como principais características a utilização de 3 (três) tambores: grande, meião e crivador, que formam a “parelha”. Os tambores possuem diferentes tamanhos e seu manuseio, afinação e toques, para serem compreendidos, precisam também serem contextualizados com o processo diaspórico do continente africano.

É ainda, uma forma de resistência, um importante instrumento que atua na conscientização de que nossas raízes são partes importantes, fundamentais na formação da nossa identidade histórica.

O Tambor de Crioula é uma manifestação popular atemporal que se faz presente durante todo o ano, não havendo local específico para sua prática, acontecendo em terreno de chão batido ou em grandes salões de eventos, palcos de teatro, praças, entre outros locais.

O antropólogo Sérgio Ferretti (2012) no artigo “O Calor do Tambor” fala sobre o Tambor de Crioula como uma dança típica do estado do Maranhão que, por hora, pode ter caráter religioso e profano, as vezes sendo considerado uma brincadeira realizada em qualquer época do ano, muitas vezes em prol de pagamento de promessa para São Benedito. O autor afirma que a expressividade também é chamada de Punga, por conta da marcação do tambor grande e da umbigada das mulheres que também recebe o mesmo nome e tem que ser no mesmo tempo.

Na orelha do livro “Tambor de Crioula - Ritual e Espetáculo” (FERRETTI,2002), Mundicarmo Ferretti conceitua o tambor de crioula como “uma das manifestações da cultura popular maranhense mais expressiva onde muita brincadeira é realizada em agradecimento a São Benedito ou para uma entidade, em agradecimento por uma graça alcançada”.

Além do casal Ferrettti, o pesquisador e entusiasta da Cultura Popular Domingos Vieira Filho também se manifestou acerca desta manifestação cultural. Diz no seu livro Folclore do Maranhão que “O Tambor de Crioula no Maranhão é simples dança para se divertir, sem a menor pertinência com a religiosidade do negro maranhense e seus descendentes”. É nesse sentido que se faz necessário desmistificar os tipos de entendimento sobre esta dança, mostrar aos alunos que essa manifestação artística representa a cultura maranhense em sua essência, que o Tambor de Crioula é uma festa que visa à diversão dos participantes por meio da dança, da percussão e do canto, sendo uma criação efetivada pelos descendentes dos negros escravizados no Maranhão.

 HISTÓRICO

...ASSIM SURGE O TAMBOR DE CRIOULA QUINTA DAS LARANJEIRAS

O Tambor de Crioula Quinta das laranjeiras surgiu de uma Disciplina Eletiva dentro da escola de Ensino Médio IEMA Pleno São Luís – Centro, no ano de 2022. De início, entusiasmando alunos e professores, depois foi abraçado pela comunidade do Centro de São Luís, que se reúne semanalmente para os ensaios regados a muita diversão dos brincantes. 

A ideia da atividade artística surgiu mesmo da necessidade de construir uma ponte entre escola e comunidade a partir da cultura, disseminando os atributos de uma arte ancestral carregada de valores, significados e pedagogias diversas na transmissão de saberes de forma oral, mas que ainda precisa transpor os muros da escola em um contexto integrador e transdisciplinar que reverbera na pluralidade de conhecimentos, dialogando com a promoção da cultura, da cidadania em diálogo social, por meio da mediação de saberes ancestrais

É desta forma que o Tambor de Crioula Quinta das Laranjeiras se insere, estimulando a relação de responsabilidade com a memória, espaço e manutenção do patrimônio, seus costumes e valores locais a partir das linguagens artísticas embutidas na manifestação aqui proposta.

Acreditamos que unindo pessoas neste grupo, contribuímos para a continuidade desta manifestação artística e, ainda, atuamos na desconstrução de uma visão preconceituoso e intolerante acerca do Tambor de Crioula, uma manifestação cultural maranhense, Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.

  

 

Pintura da Artista Plástica Ana Borges, representando o Tambor de Crioula.

 

 Integrantes do Tambor:

Romildo Sousa Júnior

Francisca Costa

Lucinda Mamede

Ana Pathrycya da Silva Pereira

Andreiza Vitoria Costa Sousa

Dandara Aparecida Araújo de Sousa

Eduardo Henrique Cunha Véras

Iara Patrícia Gatinho Ferreira

Ozias Rikelmy do lago Paurá

Pedro Guilherme Rabelo Borges

Ricardo araujo ferreira

Thalison Ramos Coelho Lima

 

Sede dos ensaios: Rua Oswaldo Cruz, SN, Centro.

Fotos: