domingo, 24 de janeiro de 2021

A arte Afro-brasileira

 

Xilogravura do artista maranhense Airton Marinho, retratando a Festa do Divino EspíritoSanto.


    Comentaremos aqui sobre as práticas e costumes trazidos pelo povo africano ao Brasil, sua herança e raízes culturais na formação da identidade do povo brasileiro. A arte na forma de danças, ritos, pinturas e esculturas de estética africana. estas, são possibilidades de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal, oportunizando o conhecimento e a valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos  sociais que convivem no território nacional e a crítica às relações discriminatórias e excludentes, que ainda permeiam a sociedade brasileira.

 ARTE AFRICANA

    A África é o segundo continente mais populoso do mundo, com cerca de 900 milhões de habitantes. É formada por 54 países independentes e alguns territórios que lutam por autonomia, apresentando grande diversidade geográfica, étnica, cultural e política.
   Trata-se de um enorme continente com uma história muito antiga, rica em diversidade de estilos artísticos que podem ser encontrados em museus de arqueologia e de arte do mundo todo. 
  No entanto, a história da arte africana é considerada recente porque a arte europeia e acadêmica serviu como parâmetro para ela por um longo período, desvalorizando a cultura e as artes tradicionais da África. Isso aconteceu a partir da diáspora africana, nos séculos XIV e XV, e, em especial, durante o neocolonialismo do século XIX, como consequência do etnocentrismo. 
   Desde a diáspora africana, decorrente do escravismo europeu, as artes desse continente influenciaram as artes da Europa e das Américas em uma miscigenação cultural. Atualmente, os artistas africanos têm buscado cada vez mais o seu espaço produzindo uma arte atual que, ao mesmo tempo, resgata práticas culturais mais antigas, valorizando sua cultura de origem.

A arte pré-histórica africana (imagem extraída de Vilela, col. Telaris)


GRANDES CIVILIZAÇÕES AFRICANAS (EGITO)

Antes da chegada dos europeus e do tráfico de escravizados, a África tinha   uma história de grandes civilizações, como a do Egito faraônico...

Foi nas margens do rio Nilo, no nordeste africano, em 3000 a.C., que a civilização egípcia produziu obras de arte magníficas. A produção artística egípcia consistia principalmente de esculturas e máscaras mortuárias, além de afrescos que contavam fatos da vida dos deuses e da vida dos faraós, os homens mais poderosos do Egito. Essas obras decoravam as salas onde ficavam os túmulos, ou sarcófagos, dos faraós, as chamadas salas mortuárias. As salas mortuárias localizavam-se em imensos edifícios cheios de passagens secretas, alguns em forma de pirâmide.
                A sociedade do Egito Antigo era muito organizada, com relação a divisão social bem simples. Era composta pelos povos escravos, que eram maioria de origem estrangeira e eram poucos, os camponeses livres, que viviam em aldeias e precisavam pagar diversos tributos ao Estado e aos templos, eram a maioria da população. Também existiam uma camada intermediária, os artesãos urbanos e a última a classe dominante com faraó e sua família, os sacerdotes, militares e altos funcionários do Estado.
              A sociedade egípcia era politeísta e acreditava em vida após a morte e consequentemente suas produções artísticas eram totalmente ligadas a religião. Sendo muito simbólica, usam as classes sociais, em grau de importância e representação de seus deuses. Os deuses eram retratados em escala maior que as demais pessoas integrantes da sociedade, mas não inferiorizando o restante da população,  a mulher era tratada em igualdade com homem. As cores também eram usadas com bastante simbolismo, o tom de pele mais escura demarcarva a superioridade hierárquica do (a) retratado (a).
           A arquitetura monumental egípcia seus palácios, templos e túmulos eram produzidos com a intenção de serem duradouros, principalmente os túmulos. Eram feitos para durar a eternidade por conta religião. E os artistas eram em maioria anônimos e vistos como se tivessem uma tarefa divina. E da mesma forma que as outras artes sofreram influencia da religião egípcia, a dança e a música não fora diferente. Dançavam também em situações recreativas e guerra.

ARTE AFRO-BRASILEIRA

A arte africana chegou ao Brasil através dos escravos, que foram trazidos pelos portugueses durante os períodos colonial e imperial. Em muitos casos, os elementos artísticos africanos fundiram-se com os indígenas e portugueses, para gerar novos componentes artísticos formatando a arte afro-brasileira.

Os africanos contribuíram para a cultura brasileira nas representações da dança, música, religião, culinária e na formação de nosso idioma.

O Brasil é um dos países que possui uma das maiores populações negras em     todo o mundo. Isso, devido aos mais de 4 milhões de homens, mulheres e crianças que foram trazidos para cá com o comércio de escravos nos meados do século XVI. Os escravos, conseguiram sua liberdade no século XIX, porém continuaram sendo discriminados.

Os negros africanos partiam de diferentes portos na África, por isso haviam vários grupos étnicos, com línguas e religiões diferentes. Foram obrigados a deixar tudo para trás, suas famílias, pertences, mas jamais esqueceram o que aprenderam em sua terra. As religiões africanas eram extremamente proibidas no Brasil, aceito apenas a cristã. Por isso cultuavam suas divindades secretamente, identificavam-nas com nomes de santos católicos: sincretismo.

ARTE E RELIGIÃO

As civilizações africanas tem uma visão holística e simbólica da vida. Cada indivíduo é parte de um todo, ligados, todos em função do cosmos em uma eterna busca pela harmonia e de equilíbrio. Dando grande importância ao grupo, para que a comunidade viva, cresça e se fortaleça.

Os bantos, nagôs e jejes no Brasil colonial criaram manifestações religiosas como o candomblé, religião afro-brasileira baseada no culto aos orixás praticada atualmente em todo o território nacional. Largamente cultuada também é a umbanda, uma religião sincrética que mistura elementos africanos com o catolicismo e o espiritismo, incluindo a associação de santos católicos com os orixás.

O candomblé foi trazido pelos iorubas, originários da Nigéria, pelos Jejes, da costa de Daomé e pelos Bantus, que vieram de outro ponto da África.

Quando rezavam em sua língua para Santa Bárbara, estavam muitas vezes cultuando também Iansã, quando rezavam para Nossa Sra. da Conceição, cultuavam Iemanjá. O candomblé é uma cerimônia, realizada com batuques de atabaques, cantos em ioruba ou nagô que variam de acordo com o orixá, realizadas em terreiros. Os ritos são dirigidos por um pai/mãe de santo (babalorixá ou iabalorixá).  No local são feitas oferendas e consultas espirituais.

O candomblé tem uma relação muito especial com a comida. Os devotos faziam muitas oferendas para os santos. Os africanos trouxeram também diversificados sabores na culinária: O pirão, angu, a feijoada, incluindo ingredientes como azeite de dendê, o coco e o café. Todos são herança dos africanos.

a umbanda, incorpora práticas do candomblé, do catolicismo e do espiritismo. Consideram que o universo está povoado por entidades que se comunicam através de uma pessoa: o guia, as entidades são muitas e se apresentam em denominações como “pomba-gira”, “caboclo”, “preto-velho”, dentre outras.

Macumba     é      uma      designação      preconceituosa      a      vários cultos sincréticos influenciados por religiões de raízes africanas, trata-se de um antigo instrumento musical de percussão africano, semelhante ao reco-reco. Também deriva de mucumbu, uma palavra quimbundo que significa “som”. Mas há também uma árvore Magombe, faziam-se tambores que recebiam nomes bem semelhantes ao nome das árvores, tais como Ngoma, Ngombe, Makuta, Makombe.

               A capoeira é uma luta de Origem brasileira e intimamente ligada aos escravos cativos. Teria surgido a partir de danças africanas, acrescentada a um caráter marcial, a fim de auxiliar os escravos a defender-se, para despistar a polícia, utilizavam os cantos africanos.
Berinbau.
Disponível        em:       https://abadarodos.wordpress.com/as-artes-οι- τέχνες/instrumentos/berimbau/. Acesso em: 03/07.2020.

Mestre Pastinha, Vicente Ferreira Pastinha (1889-1981), difundia a prática antes da liberação da luta e fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola CECA, em 1941. O Mestre Bimba, Manoel dos Reis Machado (1900-1974) no ano de 1932 fundou a primeira academia especializada em capoeira chamada Academia Regional, num tempo onde era ainda proibida e reprimida, teve a autorização, ambos na Bahia. O Jongo é uma dança trazida pelo povo bantu, do mesmo tronco do batuque, ambos ancestrais do samba.

No dia 9 de janeiro de 2003 foi decretada a Lei 10.639 que torna obrigatório o ensino da história e cultura Afro-Brasileira nas escolas de todo território nacional, tem como um dos objetivos o combate ao racismo e a discriminação. Dentro da mesma Lei, o calendário escolar  incluiu o dia 20 de novembro como o “Dia Nacional da Consciência Negra”. Em 2015 foi criada a primeira Graduação de Estudos Africanos na Universidade Federal do Maranhão - UFMA, uma Licenciatura oferecendo 40 vagas.

As esculturas, na arte africana, mostram uma arte representativa de membros das cortes de certas nações, nas quais ocorreu uma organização mais parecida com a das monarquias ocidentais; de divindades e fenômenos da natureza. As formas são essencialmente animistas e também simbólicas.

As máscaras sempre foram as protagonistas indiscutíveis da arte africana. A crença de que possuíam determinadas virtudes mágicas transformou-as no centro das pesquisas. O fato é que, para os africanos, a máscara representava um disfarce místico com o qual poderiam absorver forças mágicas dos espíritos e assim utilizá-las em benefício da comunidade: na cura de doentes, em rituais fúnebres, cerimônias de iniciação, casamentos e nascimentos. Serviam também para identificar os membros de certas sociedades secretas.

O Modernismo, com os movimentos de vanguarda europeus, voltou-se para a cultura africana, que serviu de inspiração para as obras de muitos artistas, como Pablo Picasso recebeu influência da cultura africana na criação de sua arte cubista.

Auto retrato de Picasso ao lado de uma máscara africana.
Disponível em: https://tiatatimaluquinha.blogspot.com/2018/09/pablo-picasso-e-as-mascaras-africanas.html. Acesso em: 03/07/2020.

Imagem do livro Telaris, de André Vilela, 2018.


Nas pinturas, assim como nas esculturas, a presença da figura humana identifica a preocupação com os valores étnicos, morais e religiosos. Nas estampas são usados grafismos com traçados usando pontos, linhas e figuras geométricas em cores puras e vibrantes

A arte, cuja origem se dá numa sociedade tribal específica, é fonte de prazer estético, veículo de comunicação entre as esferas social e sobrenatural, sendo, desse modo, arte e símbolo, elo de ligação entre passado e presente, cujo papel é socializar,

cultuar, divertir, comunicar. Por isso é um misto de conservadorismo e inovação, e o que permite sua continuidade é a possibilidade de recriação (BARROS, p. 80.).

          Nos últimos anos uma mobilização mundial para a promoção da igualdade racial, a arte tem uma vasta participação neste campo. No Brasil, desde os retratos do cotidiano no período colonial feitas por Jean-Baptist Debret, que exercita a empatia através de suas aquarelas, da publicação de 1792 chamada Viagem Pitoresca pelo Brasil até a obra O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro, que mapeia as raízes na formação da nossa identidade, há um grande espaço de tempo para estreitar e fomentar o combate ao racismo, que já passou por uma negação histórica de que a civilização egípcia tenha sido erguida pelos africanos, mesmo estando geograficamente naquele continente.



A música brasileira tem identidade

A imagem retrata a obra "Marimba: passeio de domingo à tarde", de Jean-Baptist Debret, 1826.

Para a música do século XIX, devemos considerar os seguintes acontecimentos:
A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil em 1808
A consequente elevação de Colônia a Reino
Posterior independência política do país em 1822

 Estas fases, refletem e, ao mesmo tempo, impulsionam o pensamento nacionalista, que se manifesta na política, na literatura e na arte, em suas quatro linguagens: Artes Visuais, Teatro, Dança e na Música.

A historiografia musical produzida no Brasil durante os séculos XIX e XX guiava-se por referências sobre o Brasil em uma concepção eurocentrista. Os primeiros relatos sobre a colônia, constituíam, basicamente, impressões de seus autores, entre cronistas, missionários e viajantes, sobre o que aqui encontraram.

Neste sentido, a música sacra se manifesta correspondendo à uma camada da população estrangeira no Brasil. Dentre suas referências temos:

José Maria Xavier (1819-1987) foi um padre representante do fazer musical brasileiro, de inspiração no Estilo Barroco. Transitando em suas composições pelos os aspectos da música sacra.

Antônio Carlos Gomes (1836-1896) é considerado o maior compositor de ópera brasileiro, que também se dedicou em partes para música instrumental e sacra. Teve seu trabalho reconhecido mundialmente.

O “Guarany” é uma de suas óperas, baseada no romance de José de Alencar, O Guarani. Ela estreou no Teatro Alla Scala de Milão, na Itália, em 19 de março de 1870, com grandioso sucesso. Confira a performance de sua abertura na regência do maestro Anderson Alves.


A música é, ainda, nacionalmente conhecida por ser tema de abertura da rádio nacional “A Voz do Brasil” desde 1935 (mudada no período de ditadura, retornando posteriormente).

Henrique Oswald (1852-1931) foi um compositor brasileiro, pianista e educador. Dirigiu o Instituto Nacional de Música, hoje UFRJ. Possui composições que remetem ao estilo Clássico (Período Neoclássico da arte).

Alberto Nepomuceno (1864-1920) foi um compositor brasileiro, fundamental para constituição de certo nacionalismo local, que antecede e muito ao Modernismo, valorizando o espírito da Arte Romântica (Valorização da natureza, patriotismo, idealização e fantasia). Tal qual Almeida Júnior (1850-1899) para as artes plásticas. Também educador antecedeu Henrique Oswald na direção do Instituto Nacional de Música.

Em outro contexto sócio musical, a música era popularizada, chegando a ser hostilizada por parte da sociedade mais conservadora, adepta da cultura eurocêntrica.

Mas que vê no lundu e na modinha, mais frutífera opção, pois negava-se à nacionalização da música sacra colonial, considerando-a apenas uma cópia da música europeia. Desta forma, o lundu e a modinha desenvolvem-se como bases para uma música erudita nacional.

Mas, nossa sociedade era produto da mestiçagem racial e cultural, em meio a uma mentalidade que acreditava na desigualdade das raças, vendo o branqueamento gradual da população como o caminho para o progresso e tratando a música dos nativos como primitiva e tumultuada.

Desde o final do século XIX, já existiam importantes esforços de valorização e resgate da "música popular", acompanhando de perto as polêmicas criações sobre o caráter nacional brasileiro.

 

Vejamos o nosso rico legado!!!

Lundu - Também conhecido como landum, lundum e londu, é uma dança e canto de origem africana introduzida no Brasil, provavelmente, pelos escravos. Originado no batuque africano, cuja dança era também conhecida como a tradicional dança da umbigada (semba, em quimbundo).

o lundu em fins do século XVIII não era ainda uma dança brasileira, mas uma dança africana no Brasil, e começou a ser mencionada em documentos históricos a partir de 1780. A imagem mostra o lundu praticado no século XIX, gravura de 1835 de Moritz Rugendas. 


tornou-se o primeiro gênero musical a ser gravado no Brasil, com a canção "Isto é bom", na voz de Baiano em 1902 pela Casa Edison.


batuque é feito em meio à um círculo formado pelos dançadores, indo para o meio uma pessoa que depois de executar vários passos, vai dar uma umbigada, a que chamam semba, na pessoa que escolhe, a qual vai para o meio do círculo, substituí-lo. Esta   descrição é bastante familiar ao povo maranhense, pois o princípio da dança nos remete à prática do Tambor de Crioula, manifestação artística reconhecida como Patrimônio Imaterial da Humanidade.

 


O lundu era considerado lascivo, chulo, por sua sensualidade. A dança chegou a ser proibida no Brasil, mas foi justamente sua languidez que despertou enorme apreço em muitos colonos, a ponto de começarem a praticar o lundu em seus festejos. Desta forma, aos poucos o lundu se tornou a primeira manifestação originada entre os negros a ser aceita pela sociedade colonial.

 Maxixe – Nome de origem controversa, que vai desde a alusão do nome do vegetal, de uma cidade portuguesa ao de uma pessoa que promoveu uma festa e o batizou.

É um estilo de música conhecida como “o tango brasileiro”. Teve a sua origem no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, mais ou menos quando o tango também dava os seus primeiros passos na Argentina e no Uruguai, do qual sofreria algumas influências.

Segundo Ernesto Nazaré, em 1885, quando o ator Correia Vasques dançou a música no palco, exatamente como o povo já fazia, em bailes e festas, “lundu e tango, viram maxixe”. Foi criado pelos chorões, conjuntos instrumentais de choro, fazendo uma variante altamente sincopada da habanera, gênero cubano que também era chamado tango-habanera (o primeiro uso da palavra "tango" é datado de 1823, em Havana) e que, na sua variante brasileira, passou a ser chamado "tango brasileiro". Cartaz francês anunciando as danças. 


Diferente do lundu, no maxixe todos os pares dançam ao mesmo tempo, sendo a melodia e a voz externas ao universo dos dançarinos. Até o advento do samba, o maxixe foi o gênero dançante mais importante do Rio de Janeiro.

Uma das principais compositoras de maxixe foi Chiquinha Gonzaga, tida até hoje como a precursora das marchinhas de carnaval. Confira a música “Corta jaca” da artista: https://youtu.be/FbjxquKXEJo.

E nesta interpretação contemporânea:


Como era a dança? Pode conferir aqui: https://youtu.be/AFC8YjI8aMk ou com maior originalidade no vídeo de 1915: https://youtu.be/pd4rqf7_Mdg.

 Samba - É o gênero musical considerado um dos mais representativos da nossa cultura popular. Por ser um ritmo fruto da miscigenação entre a música africana, indígena e europeia. Mas, também, devido a sua grande presença em todo território nacional, assumindo, assim, formas diferenciadas em cada região, mas sempre mantendo a alegria e sua cadência envolvente.

O samba foi criado no Brasil e sua origem está nos batuques trazidos pelos negros escravizados, misturados aos ritmos europeus, como a polca, a valsa, a mazurca, o minueto, mas acrescentemos as batidas cerimoniais indígenas a esta origem.

Inicialmente, as festas de danças dos negros escravos na Bahia eram chamadas de "samba". O Recôncavo Baiano é tido como o berço do samba, especialmente o costume de dançar, cantar e tocar instrumentos em roda, até mesmo com uso de objetos inusitados para a extração do som, como caixas de fósforo, talheres e pratos de louça. O Samba de Roda do Recôncavo Baiano foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro.

Após a abolição da escravidão, em 1888, e da instituição da República, em 1889, muitos negros se dirigiram à então capital da República, o Rio de Janeiro, em busca de trabalho. Porém, qualquer manifestação cultural africana era vista com desconfiança e criminalizada, como a capoeira e o candomblé. Com o samba não foi diferente.

O samba ganhou lugar de destaque na música brasileira, devido ao reconhecimento de compositores de origem erudita como Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, que utilizaram os ritmos africanos em suas composições. Ainda não era o samba tal como conhecemos hoje e, por isso, o chamavam de choro, valsa-choro e até mesmo tango.

Em 1917 foi gravado no Brasil aquele que é considerado o primeiro samba, com o título "Pelo Telefone", com letra de Mauro de Almeida e Donga. Leia trecho da música:

"Pelo telefone", Donga (1916).

“O chefe da polícia pelo telefone manda me avisar
Que na Carioca tem uma roleta para se jogar
O chefe da polícia pelo telefone manda me avisar
Que na Carioca tem uma roleta para se jogar

Ai, ai, ai,
Deixa as mágoas para trás ó rapaz
Ai, ai, ai,
Fica triste se és capaz, e verás.
Ai, ai, ai,
Deixa as mágoas para trás ó rapaz
Ai, ai, ai,
Fica triste se és capaz, e verás. (...)”

 

O samba foi entrando nos salões da elite e pouco a pouco foi se associando ao Carnaval, que até aquele momento, tinha as marchinhas como trilha sonora. O advento do rádio e o talento de intérpretes como Carmem Miranda, Aracy de Almeida e Francisco Alves, fizeram o samba cada vez mais popular em todo Brasil.

 TIPOS DE SAMBA:

Samba de roda; Samba-enredo; Samba-canção; Samba-exaltação; Samba de gafieira; Pagode; Samba de breque; Samba de partido alto; Samba raiz; Samba-choro; Samba rock; Samba-reggae; Bossa nova.

 Choro - Estilo popularmente chamado de chorinho, é um gênero de música instrumental brasileira, que surgiu no Rio de Janeiro em meados do século XIX. 

O choro pode ser considerado como a primeira música urbana tipicamente brasileira e, ao longo dos anos, se transformou em um dos gêneros mais prestigiados da música popular nacional, reconhecido em excelência e requinte. Tem como origens estilísticas o lundu, ritmo de inspiração africana à base de percussão, com gêneros europeus. São Luís, capital do Maranhão possui grandes representações neste estilo musical. Tem atém um programa de rádio dominical, chamado Chorinhos e chorões, no ar da Radio Universidade desde a década de 1980. E, ainda, o projeto de fomento a este ritmo, chamado “Rico Choro Com Vida na Praça”, que faz apresentações públicas e gratuitas itinerantes pelas praças da cidade.  Confira a qualidade na organização de uma das edições do evento:



 Obra "O Violeiro" de Almeida Júnior (1850-1899), pintor brasileiro conhecido pelos seus retratos do regionalismo e de pessoas anônimas. Essa tendência fica clara no quadro "O Violeiro", em que duas pessoas do interior são mostradas sem os filtros nacionalistas ou românticos comuns na época. É importante destacar que nesse século era incomum que pinturas de pessoas comuns (quem não era da nobreza) fossem pintadas.

A obra mostra claramente a transição de mentalidades transmitida nas artes que fazem a transição do século XIX ao século XX.


Este conteúdo já caiu no Enem!!!!


Confira:

Questão 123 (2014)

Questão 126 (2013)

Questão 115 (2014)


Mais questões do conteúdo geral de MÚSICA aqui


QUESTÕES DE PROVAS JÁ APLICAS QUE SE RELACIONAM AO CONTEÚDO

QUESTÃO 1 (ENEM 2017)

 


  VALENTIM, R. Emblema 78. Acrílico sobre tela. 73 x 100 cm. 1978. Disponível em: www.espacoarte.com.br.

A obra de Rubem Valentim apresenta emblemas que, baseando-se em signos de religiões afro-brasileiras, se transformam em produção artística.

A obra Emblema 78 relaciona-se com o Modernismo em virtude da:

a)      Simplificação de formas da paisagem brasileira

b)      Valorização de símbolos do processo de urbanização.

c)       Fusão de elementos da cultura brasileira com a arte europeia.

d)      Alusão aos símbolos cívicos presentes na bandeira nacional.

e)      Composição simétrica de elementos relativos à miscigenação racial.

 QUESTÃO 2 (ENEM 2009)

Os melhores críticos da cultura brasileira trataram-na sempre no plural, isto é, enfatizando a coexistência no Brasil de diversas culturas. Arthur Ramos distingue as culturas não europeias (indígenas, negras) das europeias (portuguesa, italiana, alemã etc.), e Darcy Ribeiro fala de diversos Brasis: crioulo, caboclo, sertanejo, caipira e de Brasis sulinos, a cada um deles correspondendo uma cultura específica.

MORAIS,  F. O  Brasil  na  visão  do  artista:  o  país  e  sua  cultura. São Paulo: Sudameris, 2003.

Considerando a hipótese de Darcy Ribeiro de que há vários Brasis, a opção em que a obra mostrada representa a arte brasileira de origem negro-africana é:


a)

b)


c)

e)


f)

A alternativa (A) representa formas que remetem aos signos das religiões afro-brasileiras, como a Umbanda e o Candomblé. A alternativa (E) representa um mosaico de origem Greco-romana, a (C) faz referência ao imaginário urbano, enquanto as demais (B) e (D) são figuras abstratas. Portanto, apenas a opção A corresponde à arte brasileira de origem africana.

Resposta: Letra A

QUESTÃO 3 (ENEM 2015)


Máscara senufo, Mati. Madeira e fibra vegetal. Acervo do MAE/USP.

As formas plásticas nas produções africanas conduziram artistas modernos do início do século XX, como Pablo Picasso, a algumas proposições artísticas denominadas vanguardas.

A máscara remete à

a)      preservação da proporção.

b)      idealização do movimento.

c)       estruturação assimétrica.

d)      sintetização das formas.

e)      valorização estética.

 Resposta:

Letra D, A máscara remete a uma manifestação artística mais simples, sintética, sem tantas preocupações com trações, contornos, como pregava a arte mimética, praticada na Europa até então.

QUESTÃO 4 (ENEM 2015)

Ao se apossarem do novo território, os europeus ignoraram um universo de antiga sabedoria, povoado por homens e bens unidos por um sistema integrado. A recusa em se inteirar dos valores culturais dos primeiros habitantes levou-os a uma descrição simplista desses grupos e à sua sucessiva destruição.

Na verdade, não existe uma distinção entre a nossa arte e aquela produzida por povos tecnicamente menos desenvolvidos. As duas manifestações devem ser encaradas como expressões diferentes dos modos de sentir e pensar das várias sociedades, mas também como equivalentes, por resultarem de impulsos humanos comuns.

SCATAMACHIA, M. C. M. In: AGUILAR, N. (Org.). Mostra do redescobrimento: arqueologia. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo Associação Brasil 500 anos artes visuais, 2000.

 

De acordo com o texto, inexiste distinção entre as artes produzidas pelos colonizadores e pelos colonizados, pois ambas compartilham o(a)

a)      suporte artístico.

b)      nível tecnológico.

c)       base antropológica.

d)      concepção estética.

e)      referencial temático.

 Resposta:

O texto diz que o resultado vem de “impulsos humanos comuns” por isso, letra C.



 Fontes:

BOZZANO, Hugo. Arte em Interação. São Paulo: Ibep, 2013.

BARROS, Maria Mirtes dos Santos. Arte e estética: uma discussão sobre o belo a partir da arte de sociedades tribais. Ciências Humanas em Revista - São Luís, V. 4, n.1, junho 2006;

BENJAMIN, Roberto. A África está em nós. João Pessoa: Grafset, 2006.

COSTA. Francisca. Do mito fundador: raça e aceitação: Disponível em: http://culturaysociedade.blogspot.com/2011/05/o-mito-fundador.html. Acesso em: 03/07/2020.

FERRARI, Solange dos Santos Utuari. Arte por toda parte: volume único. 2. Ed. São Paulo: FTD, 2016.

LEONI, Aldo Luiz. Historiografia musical e hibridação racial. Revista Brasileira de Música. Escola de Música – Universidade Federal do Rio de Janeiro. v. 23, n. 2, 95–119, 2010.

LOPES, Guilhermina. Onde começa a música brasileira? Olhares da historiografia musical e da etnomusicologia.

http://www.seer.unirio.br/index.php/simpom/article/viewFile/2498/1827, acesso em 24/01/2021.

MARIOTTO, Gladys. Arte, leitura de mundo. Curitiba, PR: Expoente, 2011.

Maxixe - o tango brasileiro!. http://www.vintageandgeek.com.br/2014/06/maxixe-o-tango-brasileiro.html, acesso em 24/01/2021.

MUNANGA. Kabengele. A Dimensão Estética na Arte Negro-Africana tradicional. Disponível     em:

http://www.macvirtual.usp.br/mac/arquivo/noticia/Kabengele/Kabengele.asp. Acesso em: 04/07/2020.

Musica Brasilis. Lundu: origem da música popular brasileirahttps://musicabrasilis.org.br/temas/lundu-origem-da-musica-popular-brasileira, acesso em 24/01/2021.

Programa "As Muitas Histórias da Música Popular Brasileira - O Maxixe" (1974 aprox.). https://youtu.be/NN0Cw-e2GOc, visualizado em 24/01/2021.

RIBEIRO,            Darcy.            Matriz            Afro.            30’.            Disponível             em: https://www.youtube.com/watch?v=_GDkl0-Ro20. Acesso em: 04/07/2020.

VILELA, André. Coleção Telaris  ano. São Paulo: Editora Ática.