terça-feira, 30 de julho de 2019

A nudez na arte

O seculo XXI e a não aceitação da nudez!!!!!

O nú está nas criações artísticas desde a pré história.  Veja a série:
1 - Vênus de willendorf. Já foi censurada no face😱;

2 - Pazuzu, primeira representação do demônio e feito lá na Mesopotâmia - na formação das primeiras. A escultura foi o ponto chave na trama do filme "O exorcista" em 1973!;

3 - Zeus, "Zeus de Artemiso",  um bronze da Grécia clássica, cerca de 300 anos a.C

Aí.... veio a Idade Média, quando a nudez e a livre expressão artística foi duramente reprimida. Apenas um hiato na historia, pois veio o Renascimento e grande efervescência no pensamento humanístico.

4 - Escultura sem título da exposição BIO-I, voltamos ao seculo XXI!!!!, onde a Pinacoteca Aldo Locatelli, localizada no Paço Municipal, sede da prefeitura de Porto Alegre recolheu a obra da mostra por considerar inapropriada por sua forma que alude às genitálias masculina e feminina.
Porque a nudez incomoda tanto o decoro dos equipamentos públicos? Um curador ou espaço expositivo nunca deve impor limitações à expressão de um artista.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Cultura nos terreiros



Cientista social e babalorixá, Pai Rodney de Oxóssi explica a relação entre as religiões de matriz africana e as diversas expressões de arte. Ele cita a relevância de artistas como Carybé (1911-1997), pintor, gravador, desenhista e muralista.
Traz uma boa reflexão sobre uma neutralidade na produção cientifica com a temática de matriz africana!
https://youtu.be/iaB94Zg_sfs

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Black ou white

Valorizemos o sistema de cotas, é pouco para reparar os danos de séculos de privações, mas reconhecer a importância já é um caminho.
No Brasil somos, na massiva maioria, frutos da miscigenação. Mas ainda considero o pardo, apenas um tipo de papel.
Kabengele Munanga aborda a ambivalência entre questões sociais, políticas e econômicas que envolvem a miscigenação racial e o preconceito presentes no ideário da construção da nacionalidade do povo brasileiro.
(...) “não é fácil definir quem é negro no Brasil”, se classifica a questão como “problemática”, sobretudo quando se discutem políticas de ação afirmativa, como cotas para negros em universidades públicas.“Com os estudos da genética, por meio da biologia molecular, mostrando que muitos brasileiros aparentemente brancos trazem marcadores genéticos africanos, cada um pode se dizer um afro-descendente. Trata-se de uma decisão política”. (Munanga em memorial descritivo para o site Museu da Pessoa).



terça-feira, 9 de setembro de 2014

Influência lusitana (?) na formação do Brasil.

Os documentários, baseados no livro O Povo Brasileiro do pesquisador e antropólogo Darcy Ribeiro, abrem alas para uma forma diferente de ver a formação do Brasil. Dividem a obra em partes distintas, identificadas como matrizes (indígena, portuguesa, africana, dentre outras).
A formação pela matriz lusitana mostra um Brasil por suas heranças multiculturais trazidas pela colonização portuguesa, cuja nascente configura a própria formação da nação portuguesa!
Para entendermos o processo que desencadeou a fundação do Estado Português, devemos remontar os acontecimentos que retratam a disputa entre os Romanos, os Lusitanos e Cartagineses pela Península Ibérica, as invasões bárbaras e a “reconquista”; além da importante presença muçulmana na região.
Em Roma...
Os romanos eram povos oriundos da península itálica e se destacavam pelo fato de possuírem um poderoso exército, o que lhes garantiram conquistar e construir um grande império. O seu centro de poder era o Mar Mediterrâneo. Todos os territórios e regiões em sua volta foram dominados progressivamente. Primeiro, toda a península itálica, depois a Grécia, Gália e finalmente Cartago.  A ponto de se expandirem na África, Europa e Ásia.
No ano de 218 a.C, os romanos chegaram à península ibérica entrando pela região onde hoje fica a Espanha. Queriam aumentar o seu domínio na região para ter acesso às riquezas minerais e recrutar escravos para os trabalhos nas cidades em franco crescimento.
Entre os povos que mais resistiram estavam os lusitanos liderados pelo valente Viriato. Contam as narrativas históricas que o guerreiro só fora vencido pela traição de dois dos seus, que foram, para tanto, subornados pelo general romano.  Após a vitória, a anexação completa da península. Que fora dividida em três reinos: Tarraconense, Luzitânia  e Bética.
Os romanos permaneceram na península ibérica por cerca de 700 anos, influenciando, com o seu modo de vida, todos os povos conquistados. Tal influência ficou evidente, especialmente, na língua – o LATIM – que substituíra as línguas nativas; nas leis que foram substituídas pelo direito romano; nas técnicas de construção de e de edificação, como as de estradas e pontes; e planejamento urbano.
Para alguns historiadores, a dominação romana começa a ter fim com o início das invasões barbaras. Contudo, apenas no plano militar posto que os povos germânicos absorveram, ou foram absorvidos, rapidamente, pela herança cultural romana, em especial, a crescente onda cristã.
Bárbaros?
Por volta dos anos 419 d. C estes povos germânicos (Helanos, Vandalos e Suevos) iniciaram as invasões, seguidos pelos visigodos, que chegaram um pouco mais tarde, em 516 d. C. Ao chegarem eles apoderaram-se das propriedades, submetendo os antigos donos à condição de servos. É importante notar que diante das novas relações de poder surge uma nova classe: a Nobreza.
Embora os nobres acumulassem terras e outras posses, lhes faltava o domínio dos sabres acumulados; conhecimento do latim. Eis um forte motivo para a aliança com os bispos cristãos (clero), que representam, de certo modo, a continuação da cultura latina.
Em 711 d. C os árabes entram na península pelo Estreito de Gibraltar, supostamente incentivados por uma aliança momentânea com uma pequena parte de guerreiros visigodos insatisfeita. Foram facilmente dominados com exceção daqueles que se refugiaram nas Astúrias, ao norte da península, de onde, mais tarde desencadeou-se o processo de retomada do território denominado de A Reconquista.
Acho que somos mais mouros que...
A presença muçulmana percebida em nossas casas, ruas e costumes – os árabes e os mouros!
          É importante fazer uma distinção entre os Árabes e os Mouros. Os Mouros eram povos que habitavam a Mauritânia que ficava a noroeste da África, enquanto que os árabes eram provenientes da península arábica. Embora, a partir do século VII, eles passem a compartilhar a mesma religião, o islamismo.
             A herança cultural deixada pelos dois povos na península pode ser vista muito abertamente nas artes, na arquitetura, no vocabulário e principalmente na introdução de técnicas de captação, armazenamento e distribuição de água, moinhos de vento, espécies de arvores e frutos nativos do oriente e trazidos por Portugal para o Brasil.
A presença moura era considerada invasora pelos habitantes da península. A conivência entre muçulmanos e cristãos era bastante conturbada e isso levou estes últimos a organizarem uma resistência ao norte da península, na região das Astúrias. A guerra entre cristãos e muçulmanos tomou ares de uma verdadeira cruzada contra os “invasores infiéis”. A chamada “reconquista”, ao passo que devolvera aos povos peninsulares as suas propriedades, restituíra o regime de servidão à antiga  nobreza.
O video Matriz Lusa, baseado na obra O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro, narra esta questão em forma de documentário. 


 Por Francisca Costa.

domingo, 15 de maio de 2011

DO MITO FUNDADOR: Raça e aceitação


Através do tempo a história identifica diferentes argumentos que indicam o encontro entre as três raças e a formação do Brasil, constituídas do imaginário popular.
Dentre estes argumentos há os que causaram muitas injustiças, crueldades desumanas. É a partir deste contexto que a sociedade contemporânea está voltando-se, para a necessidade de retratar-se por arbitrariedades enraizadas em nossa cultura. Alguns teóricos, como Baudrillard, apontam para uma guarda que prima pelo exagero ou ironizam iniciativas “politicamente corretas” demais. Mas, reconhecidamente, sabemos que o sistema de cotas e Leis de proteção ao índio, devem servir como mínima reparação do que povos, desfavorecidos durante muitos séculos, sofreram.
A filósofa Marilena Chauí, trouxe à tona, essa discussão com o livro, Brasil: mito fundador e sociedade autoritária, lançado há mais de uma década, mas encontra-se tão atual quanto no momento festivo pelos “500 anos do Brasil”.
Ela faz uma análise minuciosa dos fatores que contribuíram para a construção ideológica da personalidade do povo brasileiro: vitimado por um território conquistado e explorado - em todos os sentidos aludidos à palavra -, através da expansão marítima. Diferente de uma terra literalmente “descoberta” pelo europeu. Ela já era habitada por um povo que possuía aspectos intricados, reconhecidos pelo estudo de seus fatos sociais totais.
 Analisa como se procedeu a criação desse mito, onde o dominador impõe suas vontades de forma natural, justificada pela vontade divina. Opõe-se à idéia de um Brasil intocado, um novo mundo profético esperando pelo europeu, cujos símbolos nacionais, músicas e literatura ainda o enaltecem. Com “riquezas sem igual”, que somos um povo pacífico “ordeiro e festivo” (CAMINHA), “abençoado por Deus e bonito por natureza” (BENJOR), com recursos naturais inesgotáveis. Seus argumentos desmascaram essa alegoria e apontam para o conformismo e a impotência de nossas indignações, corrompidas por essas mesmas idéias já cristalizadas e que apenas vêm sofrendo adaptações ao longo do tempo.
O Brasil é uma invenção histórica pela qual foi feita uma construção cultural de .estrutura bastante complicada. O Mito Fundador do Brasil se revela a partir daí, como um jogo de interesses que favorece uma minoria, que instaura seu poder de dominação, com idéias que deturpam a forma de percepção da realidade.
O Brasil estava inserido no idealismo europeu no “deslocamento das fronteiras do invisível (...) – alargando o visível [pelo deslocamento de fronteiras] e atando-o a um invisível originário Jardim do Éden”. Até a etimologia de seu nome “Braaz”, pelos fenícios e “Hy Brazil” pelos irlandeses, remetem a esta simbologia, como “lugar abençoado, onde reinam primavera eterna e juventude eterna, e onde homens e animais convivem em paz” (CHAUÍ, p. 59).
O europeu visava expandir seu comercio, valorizava as especiarias vindas do oriente, ao qual recebe esta designação pelo mesmo motivo, ser também mais um símbolo, por significar mais que um lugar ou uma região: além de ser símbolo do Jardim do Éden, “oriente significa o reencontro com a origem perdida e o retorno a ela” (CHAUÍ, p. 61).
A dualidade entre Deus e o diabo no Brasil era vista pelo europeu pelas diferenças entre o litoral e o sertão. Assim como é vista a “escravização dos índios e dos negros nos ensina que Deus e o Diabo disputam a Terra do Sol. Não poderia ser diferente, pois a serpente habitava o Paraíso” (CHAUÍ, p. 66).
Esse mito faz parte do imaginário popular. Uma imagem positiva, como a analisada pela autora através das Antigas Escrituras. Dentre tantas seqüelas, há ainda a que se repete a cada quatro anos quando imaginamos um desbravador, “descobridor” da pátria, que vai nos salvar e instituir esta riqueza para todos, Idéias que são arrefecidas a cada final de mandato. Mas este “desbravador” volta novamente com outras promessas. “o brasileiro tem memória fraca”, outra marca do mito.

 * Imagem: Ilustração feita por Beto Nicácio

REFERÊNCIAS
CHAUÍ, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo, Editora Perseu Abramo: 2000.
Carta de Pero Vaz de Caminha.

domingo, 24 de abril de 2011

TROCAS, RECIPROCIDADE E OBRIGAÇÃO MORAL NA PÁSCOA



Algumas datas festivas, como a páscoa, têm como característica reacender sentimentos que intensificam práticas sociais como solidariedade, comunhão e confraternização. Suas diferentes simbologias convergem a reflexões de valores morais e de reciprocidade.

Este rito anual caracteriza-se como uma festa essencialmente religiosa, cultuada tanto por cristãos quanto pelos judeus, Pessach ou passagem, sua origem se remete a acontecimentos anteriores à Era cristã, com êxodo dos hebreus escravizados no Egito que atravessaram o Mar Vermelho. A crucificação de Cristo nas proximidades da data deu um novo significado ao período, comprovando a “ressurreição da carne”.

Tem origem atribuída ainda, aos rituais pagãos europeus pela sagração da primavera e o culto à deusa Eostre, Ostera, ou Esther que tem analogia equivalente às deusas greco-romanas. Há relatos sobre a adaptção do ritual pela Igreja, depois de institucionalizada, em busca de referências populares para que ela conseguisse se afirmar como tal, na Idade Média.

Ela suscita diversas simbologias como a produção do matzá ou ázimo (pão sem fermento) para lembrar a rápida fuga do Egito, quando não sobrou tempo para fermentar o pão. A páscoa é regulada com o período do carnaval, marcado pela quaresma, quarenta dias depois. A semana santa é iniciada no domingo de ramos, marcando a entrada de Jesus com seus discípulos na cidade de Jeruzalém, para celebrar a páscoa.

A figura do coelho está simbolicamente relacionada à esta data comemorativa, pois este animal representa a fertilidade, o coelho se reproduz rapidamente e em grandes quantidades. Entre os povos da antiguidade, a fertilidade era sinônimo de preservação da espécie e melhores condições de vida. Já os ovos de Páscoa (cozidos decorados, de chocolate, como jóias), também figuram-se neste contexto. O peixe também possui essa analogia, mas associada aos milagres atribuídos a Cristo, assim como a luz da vida na vela; o sírio; o termo “aleluia”, que dá graças à “ressurreição da carne” e o cordeiro, sendo seu próprio corpo em sacrifício.

É a idéia do “corpo de Cristo” que se rendeu para “nos salvar dos pecados” e sem esperar algo em troca: é o que se faz entender do ato em si. Mas em contrapartida espera-se que com seu exemplo seja retribuído o bem entre as pessoas. Fato que permite a idéia de dádiva e reciprocidade. Podemos identificar, nesta simbologia, características do potlatch, segundo Johnson, uma prática onde o uso de presentes indica uma intenção de generosidade e “os contemplados, sentem-se na obrigação de agir da mesma maneira” (p.179).

"A troca de presentes entre os homens, name-sakes, homônimos dos espíritos, incitam os espíritos dos mortos, os deuses, as coisas, os animais, a natureza, a serem 'generosos para com eles” (MAUSS, p.204).

Outra pratica já quase em desuso, é a de jejuar ou comer peixe no lugar de carne vermelha, seguida de certas restrições de ações como evitar sair na rua, limpar a casa, até mesmo tomar banho. Estes fatos incidem sobre a “teoria do Sacrifício” e sobre a “velha moral da dádiva transformada em princípio de justiça”, sinalizadas por Mauss. É quando um sacrifício é feito em nome de uma retribuição divina, a humildade pela bonança futura.

Há ainda a cerimônia de “morte do Judas” que funciona como uma catarse, quando pessoas se unem para fazer “justiça” contra o “traidor de Cristo”, é a troca justa pelo ato cometido.

As simbologias do período tanto para os judeus quanto para os cristãos, principalmente católicos, geralmente incentivam uma prática que faz reacender momentos de reflexão. Desmistifica sua associação como um fato genuinamente litúrgico, por ter em raízes rituais pagãos. Rebate ainda a propagação da idéia de consumismo capitalista, pois a data, em sua essência, vai além deste costume. E, mesmo através dele, há resquícios em comum com a noção de dádiva já praticada por outros povos.
REFERÊNCIAS
COSTA, Francisca. Observações de campo com relatos de pessoas durante o feriado da páscoa de 2011.
JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zaar Ed., 1997.
MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo. Cosac Naify: 2003.
PAULINAS.http://www.paulinas.org.br/diafeliz/datacom.aspx?Dia=4&Mes=4&DataComID=557. Acessado em 21 de abril de 2011.
SOCIOLOGIA E CIBERESPAÇO.
http://sociologiaeciberespaco.blogspot.com/2009/04/dos-ritos-pagaos-ate-pascoa.html. Acessado em 21 de abril de 2011.

*Análise sobre as relações sociais durante o feriado da páscoa, fundamentada a partir do estudo do capítulo Ensaio sobre a dádiva, apresentado por Marcel Mauss.
 

sexta-feira, 25 de março de 2011

Os Sonacirema... Alguém já ouviu falar deles?


A cultura dos Sonacirema se caracteriza por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que se beneficiou de um habitat natural muito rico. Muito ocupados com a economia, depreendem muito tempo com ocupação de rituais. O corpo humano é o principal foco de atenção dos rituais.
Acreditam que é débil, feio e doente e por isso todo grupo tem em suas casas os santuários para suas cerimônias. Os mais ricos tem diversos deles, aliás, sua condição é avaliada pela quantidade de santuários que possui em sua casa. Os menos favorecidos têm apenas um e se espelham nos ricos na construção dos santuários, cobrindo-os de pedras e  cerâmicas.
As cerimônias ocorridas são secretas e privadas e somente com  às crianças se discute esses mistérios, porque são iniciantes.
Umacaixa embutida na parede guarda poções mágicas e inúmeros feitiços, sem os quais, nenhum nativo acredita poder viver.
Os feitiços são obtidos de curandeiros, os quais escrevem com linguagem antiga e secreta as poções curativas que são levadas aos herbários e curandeiros que fornecem o feitiço desejado, cada qual recebendo substanciais presentes. Os feitiços são utilizados na medida de seu propósito e depois são guardados na caixa mágica que esta sempre cheia, são tantos que as pessoas esquecem sua utilidade.
Embaixo da caixa sagrada existe a fonte de águas sagradas, que os sacerdotes mantêm ritualmente puro, através de cerimônias no Templo das Águas.
Os homens-da-boca-sagrada estão abaixo dos curandeiros, e os sonacirema  acreditam que o cuidado da boca tem uma influência sobrenatural nas relações sociais e uma forte relação entre características orais e morais. O corpo e a boca fazem parte do ritual cotidiano, rito que repugna o estrangeiro, pois o uso de um pequeno feixe de cerdas de porco na boca, que movimenta pós mágicos com gestos iguais e continuados.
O homem-da-boca-sagrada recebe a visita dos sonacirema duas ou mais vezes por ano. Esses possuem uma variedade de objetos usados no exorcismo dos perigos da boca, alargam buracos e lá depositam pós-mágicos, mesmo que os dentes deteriorem os nativos continuam retornando. As personalidades destes nativos mostram uma tendência masoquista definida, pois o homem-da-boca-sagrada enfia a agulha no nervo enquanto seus olhos brilham sadicamente. Essa tendência fica evidente quando no ritual diário envolve uma arranhadura e laceração no rosto com um instrumento cortante. Ritos femininos também são masoquistas, quatro vezes por mês lunar, as mulheres enfiam suas cabeças em fornos durante uma hora.
A imponência do templo Latipsoh recebe pacientes doentes para tratamento e as cerimônias ai realizadas, envolvem um grupo de vestais com roupa e penteados distintos, além do taumaturgo. Existe uma certa violência nas cerimônias, pouco conseguem curar-se. Crianças não gostam de submeter-se à doutrinação e resistem. Os guardiões não admitem o cliente que não possa dar um presente ao zelador, mesmo após sobreviver às cerimônias, não se permite a saída até que outro presente seja dado.
Os sonacirema não expõem o corpo e suas funções, como banho e excreções, e ao entrar para as cerimônias sofrem um choque psicológico por não estar na intimidade doméstica. Um homem nunca exposto no ato excretório, nem sua mulher, de repente, encontram-se nus diante de uma vestal desconhecida, enquanto executa suas funções no vaso sagrado. Essas excreções são utilizadas por um adivinho para diagnosticar a doença, enquanto as clientes são apalpadas e manipuladas pelos curandeiros. 
Além de ficarem quietos em suas camas duras, os pacientes recebem de madrugada a visita de vestais que os acordam e fazem uma série de exames, enfiando varas em suas bocas além de atirarem agulhas magicamente tratadas em sua carne.
O feiticeiro chamado de Escutador exorciza demônios em pessoas que foram enfeitiçadas. Os sonacirema expõem ao Escutador todos os seus medos e problemas, pois acreditam que os pais fazem feitiçaria contra os filhos.
A estética nativa é aversa ao corpo e as funções naturais. Fazem rituais de jejum para fazerem gordos ficarem magros, banqueteiam os magros para os engordarem, rituais para fazerem seios das mulheres crescerem, ou diminuírem se são grandes. Aliás, essas de desenvolvimento hiper-mamário são idolatradas e podem viver de aldeia em aldeia exibindo-os em troca de uma taxa.
As funções sexuais são distorcidas, tabu como conversa, são muitos esforços feitos para evitar a gravidez, materiais mágicos e fases da lua. A concepção é pouco freqüente e, quando grávidas, as mulheres se vestem a ocultar o seu estado. O parto é em segredo, a maioria das mulheres não amamenta e nem cuida dos bebes.
Essa vida cheia de rituais mostra a dificuldade de compreender como os Sonacirema conseguiram sobreviver com os pesados fardos que lhes impuseram.
Agora que você leu tudo, leia ao contrário a palavra... Sonacirema. "nós, Sonamuh", também temos as mesmas práticas, mas não entendemos a verdade simplesmente pelo nosso preconceito e por despreparo mental em analisar as coisas sob outros pontos de vista, que não o do nosso ego. 
Imagem: 

"Progresso Americano" (1872), de John Gast

Horace Miner
In: A.K. Rooney e P.L. de Vore (orgs)
YOU AND THE OTHERS - Readings in Introductory Anthropology
(Cambridge, Erlich)
1976

Há ainda esta versão do texto: Os ritos corporais entre Os Nacirema