sábado, 21 de setembro de 2019

Pré-história, prescrita

                 O período pré-histórico foi dividido em fases, uma forma de facilitar sua compreensão. Em uma vídeo-aula o professor Marcos Dominici faz a diferenciação dessas fases levando em consideração as manifestações artísticas em suas quatro linguagens (artes visuais, teatro, dança e música), feitas no período. Contextualiza ainda, a cultura local e a arte rupestre brasileira.
As vênus, nomes atribuídos às esculturas femininas, têm, em alguns exemplos, certas partes da anatomia humana exageradas: abdômen, quadril, seios e coxas. Simbolizam o “padrão de beleza” do período, o que era almejado nas formas femininas, face à procriação, necessidades físicas e de subsistência.

A escrita delimita a historia da humanidade, mas antes desta habilidade já eram somadas muitas outras no campo das linguagens artísticas. As pinturas nas paredes das cavernas, as flautas feitas de ossos, as esculturas das vênus e as imagens das representações humanas, já simplificadas para serem entendidas, movimentando-se conforme dançam, caçam ou representam momentos ritualísticos, dão a certeza de que a arte sempre fez parte das principais atividades humanas. No filme "A guerra do fogo", de 1981, Jean-Jacques Annaud mostra a convivência concomitante de varias especies e a seleção natural face ao desenvolvimento das habilidades manuais. A revista aventuras na historia traz o artigo interessantíssimo, aqui no link, que mostra o quão complexos já éramos e pouco mudamos como humanos nessa infinita vastidão de avanços tecnológicos.
(https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-como-vivia-homem-na-pre-historia.phtml)

                Outro estudo mais recente diz que "Artistas esculpiam pedras com figuras femininas, as Vênus. Para muitos antropólogos, elas aludiam ao culto da fertilidade. Mas o arqueólogo Timothy Taylor tem outro palpite: seriam versões da época de símbolos sexuais.
               Ver artigo na íntegra: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-como-vivia-homem-na-pre-historia.phtml.

Abaixo, o vídeo faz uma breve apresentação sobre as esculturas pré-históricas conhecidas como "estatuetas de Vênus".
E a música...

Há vestígios - nas pinturas das cavernas - de que o homem utilizava a música nas cerimônias e rituais: encorajamento para a caça, evocação das forças da natureza, cultos dos mortos, etc. 

Na Pré-História a música toma por imitações dos sons da Natureza: com gritos, sons corporais, batendo com paus, ramos, pedras, conchas.

👉 Som de flauta feita de osso 👈

A Imagem encontrada em Cogul, Espanha.Mostra a dança das mulheres em torno de um homem. Induz para o comportamento das pessoas face a uma manifestação de música e dança.

A Dança de Cogul.

A imagens observadas podem representar ancestrais se movimentando de forma ordenada e coletiva. Um exemplo disso é a figura encontrada na parede da Serra da Capivara- RN, abaixo.


OS PERÍODOS DA PRÉ-HISTÓRIA A PARTIR DA ARTE

 A pré-história foi dividida em longas e diferentes fases, uma forma de facilitar a demarcação e temporalidade dos artefatos e materiais encontrados e documentados.

o Período Paleolítico (Idade da Pedra Lascada) foi o mais antigo, seguido sucessivamente pelo Período Neolítico (Idade da Pedra Polida), Período Mesolítico, incorporado depois, devido ao grande espaço de tempo entre o Paleolítico e o Neolítico, necessitando maior marcação entre ambos, para alocar peças e costumes, e a Idade dos Metais (que ainda recebe suas divisões, à medida que as pessoas aprendiam a fundir e manipular os metais que iam encontrando), foi a última fase.

O estudo de cada período ou fases, no conteúdo de Arte, leva em consideração as manifestações artísticas em suas quatro linguagens (artes visuais, teatro, dança e música), reconhecidas através dos registros rupestres (arte rupestre, termo que faz referência às rochas, paredes das cavernas onde foram encontradas em grande parte esses registros). Esses registros eram atrelados aos costumes e afazeres dos indivíduos, envolvendo rituais de cunho religiosos, atividades de caça e às práticas de guerras ou disputas.

A escrita delimita a história da humanidade, mas antes desta habilidade já eram somadas muitas outras no campo das linguagens artísticas. As pinturas nas paredes das cavernas, as flautas feitas de ossos, as esculturas das vênus e as imagens das representações humanas, já simplificadas para serem entendidas, movimentando-se conforme dançam, caçam ou representam momentos ritualísticos, dão a certeza de que a arte sempre fez parte das principais atividades humanas.

No filme "A guerra do fogo", de 1981, Jean-Jacques Annaud mostra a convivência concomitante de variadas espécies e a seleção natural face ao desenvolvimento das habilidades manuais, uma ficção que tenta ilustrar o período de forma especulativa, mas também naturalista e realista.

O Período Paleolítico tem início aproximado há 4,4 milhões de anos e se estende até 8000 a.C. Nele, os povos eram nômades, coletores, fabricavam utensílios domésticos e armas em pedra, osso (caça). De quando datam as pinturas nas cavernas de Lascaux e Chauvet, na França. Tinham como temas, em sua produção, a caça, a pesca e rituais de interpretação religiosas. Representavam a natureza, os animais, em formas naturalistas (pintavam como viam), acreditavam que o espírito do animal ficava retido na imagem e com isso ele ficaria mais enfraquecido, facilitando a caça.

Desenhos das paredes da gruta de Lascaux, na França, há 10 anos ganharam preparação para a visitação pública. Acesso:

http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,EMI181435-18071,00-CAVERNA+COM+PINTURAS+PREHISTORICAS+GANHA+REPLICA+QUE+VIAJARA+PELO+MUNDO.html, em 28/07/2020.



Nas pinturas eram utilizados pigmentos naturais, ossos carbonizados, carvão, vegetais e sangue de animais.

No Período Neolítico: período que se estende de 8000 a.C. a 5000 a.C. aproximadamente. Houve um salto tecnológico na produção de utensílios e armas, nesse período, as comunidades deixam de ser nômades e adquiram caráter tribal, sua pintura apresenta um caráter mais geométrico e estilizado: eram bastante dinâmicas e mais sugeriam do que evidenciavam as características dos seres representados (a imagem foi sendo abstraída). Seus temas ou assuntos, ainda eram o tipo de vida que levavam, seus hábitos, costumes e rituais.



Na imagem, Pintura rupestre nas cavernas de Tassili n'Ajjer, na Argélia Visualizado: http://lealuciaarte.blogspot.com/2012/01/por-sua-antiguidade-pode-se-verificar_30.html, em 28/07/2020.

O Parque Nacional Serra da Capivara, no sertão do Piauí, abriga mais de 1.200 pontos de arte rupestre. A região possui a maior quantidade de sítios arqueológicos pré-históricos das Américas.

Acesso: https://quantocustaviajar.com/blog/serra-da-capivara-sofre-com-falta-de-recursos/, em 28/07/2020.

Pelas cavernas da serra se observam pinturas feitas há milhares de anos, que rendem um grande valor cultural e científico ao lugar, considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco desde 1990.

Já o Parque Nacional Vale do Catimbau, em Pernambuco é o segundo maior sítio arqueológico do país, com cerca de 30 sítios arqueológicos com grafismos rupestres já catalogados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).  Imagem abaixo, vsualizada: https://quantocustaviajar.com/blog/vale-do-catimbau-em-pernambuco/, em 28/07/2020.



Ainda datam do período as construções de estruturas em pedra, importante registro da habilidade e engenhosidade dos povos dessa fase. São chamadas de monumentos megalíticos (grandes pedras), que são divididos em três categorias: Menires, Dólmens e Cronlecks, onde encontramos no círculo de Stonehenge, na Inglaterra, a construção mais notória.

Na Idade dos Metais: período que se estende de 5000 a.C., até a criação da escrita cuneiforme, pelos sumérios. Foi quando o ser humano começou a dominar, ainda que de maneira rudimentar, a técnica da fundição. A princípio, utilizou como matéria prima o cobre, depois o estanho e o bronze (uma liga de cobre e estanho) e, por fim, o ferro, marcando um ápice da habilidade e destreza marcando a formação e o desenvolvimento das primeiras comunidades. Daí a subdivisão: Idade do Cobre; Idade do Bronze e Idade do Ferro. Idade dos Metais é a última fase da Pré-História que vai de 5000 a.C. até o desenvolvimento da escrita pelos povos sumérios, em cerca de 4000 a.C. Recebe esse nome posto que o metal foi a matéria prima mais utilizada para produção de ferramentas e objetos.


Por fim, seriam o pré-históricos os primeiros artistas murais???

 Castelo em Kelburn, na Escócia, feito pelos Gêmeos, dupla brasileira reconhecida internacionalmente no trabalho do grafite. Acesso: https://blog.kanui.com.br/artistas-brasileiros-grafitam-castelo-na-escocia/, em 28/07//2020.

 


Esta imagem, representa uma pintura mural grafitada com estêncil, onde um trabalhador remove pinturas rupestres, foi feita em (2008) em Leak Street, em Londres, Inglaterra, feita pelo artista Banksy. Ao tempo que promove uma crítica social, associa o tipo de prática de pintura tão atual, mas que remete às primeiras manifestações de criação humana. Acesso: https://hav120142.wordpress.com/2014/11/20/graffiti-do-paleolitico-ao-sec-xxi-2/, visualizado em 28/07/2020.




Sugestão de atividade, a criação de Mapas conceituais sobre o filme. Aqui tem alguns exemplos de trabalhos de meus alunos:
























Segue um roteiro de estudos para uso do conteúdo em sala de aula:

Sugestão de atividades sobre o conteúdo:


QUESTÕES DE PROVAS JÁ APLICAS QUE SE RELACIONAM AO CONTEÚDO

 

QUESTÃO 1 (ENEM-2017)



A pintura rupestre acima, que é um patrimônio cultural brasileiro, expressa:

a)    o conflito entre os povos indígenas e os europeus durante o processo de colonização do Brasil.

b)    a organização social e política de um povo indígena e a hierarquia entre seus membros.

c)    aspectos da vida cotidiana de grupos que viveram durante a chamada pré-história do Brasil.

d)    os rituais que envolvem sacrifícios de grandes dinossauros atualmente extintos.

e)    a constante guerra entre diferentes grupos paleoíndios da América durante o período colonial.

 

Resposta:

Letra C

 c) aspectos da vida cotidiana de grupos que viveram durante a chamada pré-história do Brasil.

As pinturas rupestres retratavam, provavelmente, o dia a dia dos seres humanos daquela época, como as caçadas e os animais que habitavam no entorno. A alternativa (c) resume bem esta ideia e, portanto, é a correta.

 

QUESTÃO 2 (UFG-2010)

As pinturas rupestres são evidências materiais do desenvolvimento intelectual dos seres humanos. Embora tradicionalmente estudadas pela Arqueologia, elas ajudaram a redefinir a concepção de que a História se inicia com a escrita, pois

a) funcionam como códices velados de uma comunidade à espera de decifração.
b) expressam uma concepção de tempo marcada pela cronologia.
c) indicam o predomínio da técnica sobre as forças da natureza.
d) atestam as relações entre registros gráficos e mitos de origem.
e) registram a supremacia do indivíduo sobre os membros de seu grupo.

 

Resposta:

Alternativa correta: a)

funcionam como códices velados de uma comunidade à espera de decifração. Tradicionalmente, considerava-se que a pré-história terminava com o surgimento da escrita. No entanto, essa teoria foi superada, pois vários povos como os incas e astecas jamais conheceram a escrita e nem por isso deixaram de construir civilizações impressionantes. Desta forma, os desenhos encontrados nas cavernas ganharam novos significados. Atualmente, a hipótese mais provável é que seriam uma forma de registro das atividades da comunidade.

 

Referências

BOZZANO, Hugo B. Arte em interação. Volume único. São Paulo: Ibep, 2013.

FERRARI, Solange dos Santos Utari. Arte por toda parte: volume único. 2. Ed. São Paulo: FTD, 2016.

GOMBRICH, E. H. A História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1998.


quinta-feira, 8 de agosto de 2019

As faces do mal estão à solta



    A estoria do mais famoso serial killer dos EUA está mais uma vez nas telas de cinema, (Sim, Ted Bundy, serviu de inspiração para uma série de filmes que retratam psicopatas assassinos!).
    Numa crítica, Isabela Buscov aponta: "é, em suma, um personagem perfeito para os dias de hoje: um mestre em cegar com aparências, em vender versões no lugar de fatos e em negá-los peremptoriamente, mesmo diante de evidências inequívocas."
    A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do bestseller "Mentes Perigosas", afirma que há uma estatística onde a cada 25 pessoas, uma pode ser diagnosticada com algum tipo de psicopatia, a incapacidade de sentir empatia por outra pessoa. (veja o artigo: http://www.revistacorpoemente.com.br/noticias/a-cada-25-pessoas-no-brasil-uma-e-psicopata-diz-autora-de-best-sellers)
     A arte imita a vida, neste caso? 

    Outra adaptação, feita em 2017 por Luiz Ortega, com produção de Pedro Almodóvar, conta a historia do maior serial killer da Argentina, Carlos Robledo Puch, preso há 45 anos, "El ángel", o sucesso de publico, somando a maior arrecadação de bilheteria do ano de 2018 no país de origem, denota além da habilidade técnica e esmero do diretor, a curiosidade das pessoas sobre a temática, os porquês sobre tais atos, os limites e desvios na mente humana.
    A trilha sonora traz algumas musicas do Moondog, como "bird's laments", músicas de Palito Ortega (pai do diretor do filme), conferida no trailler e de outros artistas latinos da decada de 70, o que já vale uma conferida... E ir além... As performances de Chino Darín (filho do mais aclamado ator argentino, Ricardo Darín) e Lorenzo Ferro são um diferencial.


https://youtu.be/VrePOzNfYHE

     O tema assumiu um argumento na metalinguagem com a premiada série norte americana Dexter, produzida pelo canal Showtime, onde um assassino em série, matava assassinos que a polícia não conseguia capturar.
     Dexter, o personagem título, trabalhava como analista forense especialista em padrões de dispersão de sangue (sim, uma especialidade curiosa) no departamento da polícia de Miami. O programa estreou em 1 de outubro de 2006  e teve o seu último episódio em 22 de setembro de 2013, foram oito temporadas. Uma adaptação do livro Darkly Dreaming Dexter de Jeff Lindsay.
     Valendo-se do fato de ser um muito habilidoso especialista forense em análise sanguínea e de trabalhar no Departamento de Polícia de Miami, Dexter, de um modo bem meticuloso e sem pistas, matava criminosos que a polícia não conseguia levar à Justiça. Ele organizava seus assassinatos em torno do "Código de Harry", um apanhado de regras e procedimentos desenvolvidos por seu pai adotivo, Harry, para garantir que seu filho nunca fosse preso e assegurasse que ele matasse apenas outros assassinos. Harry também treinou Dexter quanto à interagir convincentemente com outras pessoas apesar de ser um sociopata. Seus relacionamentos desenvolvidos durante a série, no entanto, acabavam por mal suceder em seu estilo de vida duplo e a levantar dúvidas quanto a sua necessidade de matar. Temos aí uma trama psicológica, onde o expectador pode ter até um certa simpatia pelo personagem e torcer por sua "justiça" embasada na Lei de Talião. As tramas são leves, com uma trilha variada de ritmos  entre as caribenhas e românticas. Há ainda muitos trechos cômicos e sarcásticos desde as cenas de desova dos cadáveres, feitas pelo personagem em seu barco chamado "Slices of life" às narrações nos desenvolvimentos das tramas e descrições dos personagens.
O vídeo de abertura é recheado de simbologias que apresentam elementos simples de forma dúbia e metafórica:

Vídeo de apresentação do personagem:
Por Francisca Costa

terça-feira, 30 de julho de 2019

A nudez na arte

O seculo XXI e a não aceitação da nudez!!!!!

O nú está nas criações artísticas desde a pré história.  Veja a série:
1 - Vênus de willendorf. Já foi censurada no face😱;

2 - Pazuzu, primeira representação do demônio e feito lá na Mesopotâmia - na formação das primeiras. A escultura foi o ponto chave na trama do filme "O exorcista" em 1973!;

3 - Zeus, "Zeus de Artemiso",  um bronze da Grécia clássica, cerca de 300 anos a.C

Aí.... veio a Idade Média, quando a nudez e a livre expressão artística foi duramente reprimida. Apenas um hiato na historia, pois veio o Renascimento e grande efervescência no pensamento humanístico.

4 - Escultura sem título da exposição BIO-I, voltamos ao seculo XXI!!!!, onde a Pinacoteca Aldo Locatelli, localizada no Paço Municipal, sede da prefeitura de Porto Alegre recolheu a obra da mostra por considerar inapropriada por sua forma que alude às genitálias masculina e feminina.
Porque a nudez incomoda tanto o decoro dos equipamentos públicos? Um curador ou espaço expositivo nunca deve impor limitações à expressão de um artista.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Cultura nos terreiros



Cientista social e babalorixá, Pai Rodney de Oxóssi explica a relação entre as religiões de matriz africana e as diversas expressões de arte. Ele cita a relevância de artistas como Carybé (1911-1997), pintor, gravador, desenhista e muralista.
Traz uma boa reflexão sobre uma neutralidade na produção cientifica com a temática de matriz africana!
https://youtu.be/iaB94Zg_sfs

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Black ou white

Valorizemos o sistema de cotas, é pouco para reparar os danos de séculos de privações, mas reconhecer a importância já é um caminho.
No Brasil somos, na massiva maioria, frutos da miscigenação. Mas ainda considero o pardo, apenas um tipo de papel.
Kabengele Munanga aborda a ambivalência entre questões sociais, políticas e econômicas que envolvem a miscigenação racial e o preconceito presentes no ideário da construção da nacionalidade do povo brasileiro.
(...) “não é fácil definir quem é negro no Brasil”, se classifica a questão como “problemática”, sobretudo quando se discutem políticas de ação afirmativa, como cotas para negros em universidades públicas.“Com os estudos da genética, por meio da biologia molecular, mostrando que muitos brasileiros aparentemente brancos trazem marcadores genéticos africanos, cada um pode se dizer um afro-descendente. Trata-se de uma decisão política”. (Munanga em memorial descritivo para o site Museu da Pessoa).



terça-feira, 9 de setembro de 2014

Influência lusitana (?) na formação do Brasil.

Os documentários, baseados no livro O Povo Brasileiro do pesquisador e antropólogo Darcy Ribeiro, abrem alas para uma forma diferente de ver a formação do Brasil. Dividem a obra em partes distintas, identificadas como matrizes (indígena, portuguesa, africana, dentre outras).
A formação pela matriz lusitana mostra um Brasil por suas heranças multiculturais trazidas pela colonização portuguesa, cuja nascente configura a própria formação da nação portuguesa!
Para entendermos o processo que desencadeou a fundação do Estado Português, devemos remontar os acontecimentos que retratam a disputa entre os Romanos, os Lusitanos e Cartagineses pela Península Ibérica, as invasões bárbaras e a “reconquista”; além da importante presença muçulmana na região.
Em Roma...
Os romanos eram povos oriundos da península itálica e se destacavam pelo fato de possuírem um poderoso exército, o que lhes garantiram conquistar e construir um grande império. O seu centro de poder era o Mar Mediterrâneo. Todos os territórios e regiões em sua volta foram dominados progressivamente. Primeiro, toda a península itálica, depois a Grécia, Gália e finalmente Cartago.  A ponto de se expandirem na África, Europa e Ásia.
No ano de 218 a.C, os romanos chegaram à península ibérica entrando pela região onde hoje fica a Espanha. Queriam aumentar o seu domínio na região para ter acesso às riquezas minerais e recrutar escravos para os trabalhos nas cidades em franco crescimento.
Entre os povos que mais resistiram estavam os lusitanos liderados pelo valente Viriato. Contam as narrativas históricas que o guerreiro só fora vencido pela traição de dois dos seus, que foram, para tanto, subornados pelo general romano.  Após a vitória, a anexação completa da península. Que fora dividida em três reinos: Tarraconense, Luzitânia  e Bética.
Os romanos permaneceram na península ibérica por cerca de 700 anos, influenciando, com o seu modo de vida, todos os povos conquistados. Tal influência ficou evidente, especialmente, na língua – o LATIM – que substituíra as línguas nativas; nas leis que foram substituídas pelo direito romano; nas técnicas de construção de e de edificação, como as de estradas e pontes; e planejamento urbano.
Para alguns historiadores, a dominação romana começa a ter fim com o início das invasões barbaras. Contudo, apenas no plano militar posto que os povos germânicos absorveram, ou foram absorvidos, rapidamente, pela herança cultural romana, em especial, a crescente onda cristã.
Bárbaros?
Por volta dos anos 419 d. C estes povos germânicos (Helanos, Vandalos e Suevos) iniciaram as invasões, seguidos pelos visigodos, que chegaram um pouco mais tarde, em 516 d. C. Ao chegarem eles apoderaram-se das propriedades, submetendo os antigos donos à condição de servos. É importante notar que diante das novas relações de poder surge uma nova classe: a Nobreza.
Embora os nobres acumulassem terras e outras posses, lhes faltava o domínio dos sabres acumulados; conhecimento do latim. Eis um forte motivo para a aliança com os bispos cristãos (clero), que representam, de certo modo, a continuação da cultura latina.
Em 711 d. C os árabes entram na península pelo Estreito de Gibraltar, supostamente incentivados por uma aliança momentânea com uma pequena parte de guerreiros visigodos insatisfeita. Foram facilmente dominados com exceção daqueles que se refugiaram nas Astúrias, ao norte da península, de onde, mais tarde desencadeou-se o processo de retomada do território denominado de A Reconquista.
Acho que somos mais mouros que...
A presença muçulmana percebida em nossas casas, ruas e costumes – os árabes e os mouros!
          É importante fazer uma distinção entre os Árabes e os Mouros. Os Mouros eram povos que habitavam a Mauritânia que ficava a noroeste da África, enquanto que os árabes eram provenientes da península arábica. Embora, a partir do século VII, eles passem a compartilhar a mesma religião, o islamismo.
             A herança cultural deixada pelos dois povos na península pode ser vista muito abertamente nas artes, na arquitetura, no vocabulário e principalmente na introdução de técnicas de captação, armazenamento e distribuição de água, moinhos de vento, espécies de arvores e frutos nativos do oriente e trazidos por Portugal para o Brasil.
A presença moura era considerada invasora pelos habitantes da península. A conivência entre muçulmanos e cristãos era bastante conturbada e isso levou estes últimos a organizarem uma resistência ao norte da península, na região das Astúrias. A guerra entre cristãos e muçulmanos tomou ares de uma verdadeira cruzada contra os “invasores infiéis”. A chamada “reconquista”, ao passo que devolvera aos povos peninsulares as suas propriedades, restituíra o regime de servidão à antiga  nobreza.
O video Matriz Lusa, baseado na obra O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro, narra esta questão em forma de documentário. 


 Por Francisca Costa.

domingo, 15 de maio de 2011

DO MITO FUNDADOR: Raça e aceitação


Através do tempo a história identifica diferentes argumentos que indicam o encontro entre as três raças e a formação do Brasil, constituídas do imaginário popular.
Dentre estes argumentos há os que causaram muitas injustiças, crueldades desumanas. É a partir deste contexto que a sociedade contemporânea está voltando-se, para a necessidade de retratar-se por arbitrariedades enraizadas em nossa cultura. Alguns teóricos, como Baudrillard, apontam para uma guarda que prima pelo exagero ou ironizam iniciativas “politicamente corretas” demais. Mas, reconhecidamente, sabemos que o sistema de cotas e Leis de proteção ao índio, devem servir como mínima reparação do que povos, desfavorecidos durante muitos séculos, sofreram.
A filósofa Marilena Chauí, trouxe à tona, essa discussão com o livro, Brasil: mito fundador e sociedade autoritária, lançado há mais de uma década, mas encontra-se tão atual quanto no momento festivo pelos “500 anos do Brasil”.
Ela faz uma análise minuciosa dos fatores que contribuíram para a construção ideológica da personalidade do povo brasileiro: vitimado por um território conquistado e explorado - em todos os sentidos aludidos à palavra -, através da expansão marítima. Diferente de uma terra literalmente “descoberta” pelo europeu. Ela já era habitada por um povo que possuía aspectos intricados, reconhecidos pelo estudo de seus fatos sociais totais.
 Analisa como se procedeu a criação desse mito, onde o dominador impõe suas vontades de forma natural, justificada pela vontade divina. Opõe-se à idéia de um Brasil intocado, um novo mundo profético esperando pelo europeu, cujos símbolos nacionais, músicas e literatura ainda o enaltecem. Com “riquezas sem igual”, que somos um povo pacífico “ordeiro e festivo” (CAMINHA), “abençoado por Deus e bonito por natureza” (BENJOR), com recursos naturais inesgotáveis. Seus argumentos desmascaram essa alegoria e apontam para o conformismo e a impotência de nossas indignações, corrompidas por essas mesmas idéias já cristalizadas e que apenas vêm sofrendo adaptações ao longo do tempo.
O Brasil é uma invenção histórica pela qual foi feita uma construção cultural de .estrutura bastante complicada. O Mito Fundador do Brasil se revela a partir daí, como um jogo de interesses que favorece uma minoria, que instaura seu poder de dominação, com idéias que deturpam a forma de percepção da realidade.
O Brasil estava inserido no idealismo europeu no “deslocamento das fronteiras do invisível (...) – alargando o visível [pelo deslocamento de fronteiras] e atando-o a um invisível originário Jardim do Éden”. Até a etimologia de seu nome “Braaz”, pelos fenícios e “Hy Brazil” pelos irlandeses, remetem a esta simbologia, como “lugar abençoado, onde reinam primavera eterna e juventude eterna, e onde homens e animais convivem em paz” (CHAUÍ, p. 59).
O europeu visava expandir seu comercio, valorizava as especiarias vindas do oriente, ao qual recebe esta designação pelo mesmo motivo, ser também mais um símbolo, por significar mais que um lugar ou uma região: além de ser símbolo do Jardim do Éden, “oriente significa o reencontro com a origem perdida e o retorno a ela” (CHAUÍ, p. 61).
A dualidade entre Deus e o diabo no Brasil era vista pelo europeu pelas diferenças entre o litoral e o sertão. Assim como é vista a “escravização dos índios e dos negros nos ensina que Deus e o Diabo disputam a Terra do Sol. Não poderia ser diferente, pois a serpente habitava o Paraíso” (CHAUÍ, p. 66).
Esse mito faz parte do imaginário popular. Uma imagem positiva, como a analisada pela autora através das Antigas Escrituras. Dentre tantas seqüelas, há ainda a que se repete a cada quatro anos quando imaginamos um desbravador, “descobridor” da pátria, que vai nos salvar e instituir esta riqueza para todos, Idéias que são arrefecidas a cada final de mandato. Mas este “desbravador” volta novamente com outras promessas. “o brasileiro tem memória fraca”, outra marca do mito.

 * Imagem: Ilustração feita por Beto Nicácio

REFERÊNCIAS
CHAUÍ, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo, Editora Perseu Abramo: 2000.
Carta de Pero Vaz de Caminha.