quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O HOMEM ELEFANTE: quais são os traços característicos da sociabilidade?

O Homem elefante é o filme que remonta a história verídica, do final do século XIX, sobre o inglês John Merrick, portador de uma doença que provocou grandes deformidades em seu corpo. Tendo direção assinada pelo premiado diretor David Lynch e estrelado por Anthony Hopkins, como o dr. Frederick Treves que o estudou e relatou o fato em manuscritos posteriormente publicados na obra "Estudo da Dignidade Humana" de Ashley Montagu.
Treves foi o descobridor de Merrick que aos 21 anos de vida era exibido como espetáculo de circo, numa Londres de época, onde era vitima de maus tratos. O “homem elefante”, como era apresentado ao público, evidenciava "a versão mais degradante do ser humano", causava repulsa em todos que o viam. Sua deformação era proveniente de uma doença de nascença que foi diagnosticada posteriormente como "Síndrome de Proteus”, após exames no esqueleto de Merrick (um caso grave de neurofibromatose múltipla).
A película recebeu diversos prêmios dentre Oscars, Baftas e Césares em diferentes categorias. Fato totalmente cabível pelo teor simbólico lido no filme, todo rodado em preto e branco, dando uma carga a mais de dramaticidade ao caso.
Merrick se inseria na categoria de monstro não somente por sua deformidade física, mas pela aparente impossibilidade de comunicação, fato encorajado por seu estado de vida animalesca, desprovido de estimulos sociablizantes, sendo depois remediado por intermedio do medico que o acolheu e o “libertou” de sua dupla prisão: uma por seu algoz que o escravisava usando-o como fonte de renda; outra pela “prisão sem muros” que sua aparencia proporcionava e o isolava do convívio social na constante “vigilancia foulcaultiana” ao qual era vitimado.
Este ato mostra, de forma polida, o estado que se estabeleceu estruturalmente na tradição cultural e histórica contemporânea, o campo da loucura transformado no campo da enfermidade mental, defendida por Foucault. Ao atribuir em um louco o estatuto social de enfermo garante-lhe o direito à assistência e ao tratamento sob a proteção do Estado, momento simbolicamente representado pelo abrigo de Merrick no hospital e, ainda, na carta emitida pela Rainha Vitória aos “detentores do destino do doente”.
Lynch conseguiu mostrar de forma maestral no filme, as duas faces opostas do ser humano: seu lado literalmente grotesco, simbolizado pela aparencia fisica de Merrick, que nos remete a Thomas Hobbes quando disserta sobre o “estado de natureza” do homem. Por outro lado, tem a figura do médico, que por intermediar o processo de sociabilidade de Merrick; encontra-se em uma crise existencial ao se questionar sobre sua acertividade ao “ajudá-lo” encontrando-se, então, no “homem artificial” que busca redenção por seus atos.
Fatos que sequenciam dos espetaculos sociais aos quais Merrick protagoniza, primeiramente ao viver em um circo e depois ao se tornar objeto de “curiosidade” da alta sociedade londrina vitoriana.
Consta-se sobre a sociabilidade como algo de grande complexidade, dela dependem as necessidades de cada individuo, compartilhadas ou não, e de suas relações entre si, se erigem o capital social, defendido por Pierre Bourdieu. E mesmo Merrick em sua limitada rede de relacionamento seguiu um certo envolvimento social e dele obteve resultados, proveitosos ou não para si. Esta idéia é também defendida por Norbert Elias ao descrever aspectos da sociabilidade humana.
"A relação entre os individuos e a sociedade é uma coisa singular. Não encontra analogia em nenhuma outra forma de existência. Os seres humanos criam um cosmo especial próprio dentro do cosmo natural, e o fazem em virtude de um relaxamento dos mecanismos naturais (...) juntos, eles compõem um continuum sócio-historico em que cada pessoa cresce – como participante". (p.43.)
Por fim, fica velado pelo “homem elefante” do filme, o sentimento sobre o valor dado a algo que não se pode ter, representado no sentimento de correspondencia ao amor, ao vinculo martenal e ao simples modo de dormir, destituidos à Merrick, momento em que finda sua trajetória no filme, e isto se dá, somente após sua satisfação saciada de forma plena ao fruir da arte, como fechamento de seu proprio ciclo. Abstrai-se da figura de Merrick um sentimentalismo e sensibilidade que vão de encontro, de forma extrema, à sua aparencia grotesca, discutindo o caráter de complexibilidade da vida.
Em 2020 foi supostamente encontrado o túmulo de Merrick. Confira no artigo: 
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/saga-do-tumulo-perdido-de-john-merrick-o-homem-elefante.phtml
By Francisca Costa

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