quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A arte e suas técnicas de expressão criativa

 

É essencialmente humana a necessidade de criação, pois o ato de criar permite a expressão da criatividade e esta expressão, permite o diálogo e interação entre pessoas e a realidade vivente.

Desde os tempos pré-históricos, o ser humano constrói no mundo suas próprias coisas, demonstrando maior ou menor habilidade para isso, sem a consciência ou a pretensão de fazer arte. Mas, a criação artística tem a capacidade de fomentar a fruição e o deleite para quem a produz, consome ou contempla.

Em algum momento de nossas vidas, já sentimos o efeito agradável na apreciação de alguma obra de arte, seja uma música, um romance, uma pintura, uma dança ou um poema. Mas não é fácil explicar, exatamente, o que nos encanta ou entender os motivos pelos quais milhões de seres humanos, ao longo da história, são atraídos pela arte.

O estudo da arte possui quatro linguagens expressivas: as Artes Visuais, o Teatro, a Dança e a Música.

Nas Artes Visuais, o objeto artístico, é produzido através de uma infinidade de técnicas ou, ainda, por suas associações. Verificaremos algumas formas expressivas, que ao longo da existência humana vêm dando vazão à criação e criatividade, agregando tecnologia, melhorando os materiais, multiplicando técnicas e ampliando possibilidades de comunicação através da arte em suas múltiplas e infinitas atuações.

Técnicas artísticas

PINTURA - Pintar é o processo de colorir, de pigmentar uma superfície, atribuindo-lhe matizes, tons e texturas. A pintura é uma das expressões artísticas mais antigas e tradicionais no mundo das artes visuais. Muitas, em suas inúmeras técnicas, são eternizadas em trabalhos que já fazem parte da memória visual de cada pessoa.

A pintura necessita de um meio de manifestação, o que chamamos “suporte” (a superfície onde ela será produzida) e um material para lidar com os pigmentos (os vários tipos de pincéis e tintas). Na contemporaneidade, Jackson Pollock desenvolveu uma técnica de pintura criada por Max Ernst, o dripping (gotejamento), na qual respingava a tinta sobre suas imensas telas: os pingos escorriam formando traços harmoniosos e pareciam entrelaçar-se na superfície da tela. Esta técnica ficou conhecida mundialmente como Action Painting (pintura de ação).

A escolha dos materiais e técnicas adequadas está diretamente ligada ao resultado desejado para o trabalho, e como pretende-se que ele seja entendido. Desta forma, a análise de qualquer obra artística passa pela identificação do suporte e da técnica utilizada.

O suporte pode ser a tela (normalmente uma superfície de madeira coberta por algum tipo de tecido) e, ainda, a madeira, a parede, o couro, o papel. Cada superfície destas, necessita de uma tinta específica para sua fixação, aderência e qualidade pretendida.

O elemento fundamental da pintura é a cor. A relação formal entre as massas coloridas presentes em uma obra constitui sua estrutura fundamental, guiando o olhar do espectador e propondo-lhe sensações de calor, frio, profundidade, sombra, entre outros.

Algumas técnicas e materiais da pintura:


·    Muralismo, pintura mural ou parietal: é executada sobre uma parede, quer diretamente na sua superfície, como num afresco - que consiste na aplicação de pigmentos de cores diferentes, diluídos em água, sobre argamassa ainda úmida- quer num painel montado numa exposição permanente. É uma técnica de arte pictórica vinculada à arquitetura, podendo explorar o caráter plano de uma parede – como as pinturas feitas em tumbas egípcias - ou criar o efeito de uma nova área de espaço – como o Trompe-l'oeil (engana o olho) técnica romana.

Imagem de um trome-l’oeil das ruinas da cidade de Pompéia.

Imagem de um trome-l’oeil das ruinas da cidade de Pompéia. 


Há ainda o grafite, grafito ou grafíti, uma inscrição aliada a desenhos pertencente à arte urbana, onde o artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade, muitas vezes aliada ao hip-hop.


· Tinta a óleo: é uma mistura de pigmento minerais diluídos em óleos ou azeites, formando uma massa espessa, difundido no Período renascentista, onde o artista confeccionava sua própria tinta, passou a ser comercializada embalada em tubos somente no século XIX. É dissolvida com óleo de linhaça ou terebintina para torná-la mais diluída e fácil de espalhar. O óleo acrescenta brilho à tinta; o solvente tende a torná-la opaca. A grande vantagem da pintura a óleo é a flexibilidade, pois, a secagem lenta da tinta permite ao pintor alterar e corrigir o seu trabalho.

·        Acrílico: é uma tinta sintética solúvel em água, com aspecto brilhante e secagem rápida, que pode ser usada em camadas espessas ou finas. Foi criada no século XX, experimentada por muralistas mexicanos e difundida na arte contemporânea por Jackson Pollock, Mark Rothko, Kenneth Noland, Barrett Newman, e Roy Lichtenstein

·        Aquarela: é uma técnica de pintura na qual os pigmentos se encontram suspensos ou dissolvidos em água. Os suportes utilizados na aquarela são muito variados, embora o mais comum seja o papel com elevada gramatura (espessura). São também utilizados como suporte o papiro, casca de árvore, plástico, couro, tecido, madeira e tela.

·        Guache: é um tipo de aquarela opaca. Seu grau de opacidade varia com a quantidade de pigmento branco adicionado à cor, geralmente o suficiente para evitar que a textura do papel apareça através da pintura, fazendo com que não tenha a luminosidade.

 

Gravura - Uma técnica produzida focando a impressão e reprodução de imagens. Uma gravura é produzida a partir de uma matriz que pode ser feita de metal (calcografia), pedra (litografia), madeira (xilogravura) ou seda (serigrafia). Nessa arte visual, o artista faz uma gravação da imagem, de acordo com as ferramentas que utiliza, com o propósito de imprimir uma tiragem (cópias) de exemplares idêntico, que pode ser feita pelo próprio artista ou orientando um impressor especializado.

Muito importante salientar que: uma gravura é considerada original quando é assinada e numerada pelo artista dentro de conceitos estabelecidos internacionalmente. Após aprovar uma gravura, o artista tira várias provas que são chamadas p. a. (prova do artista).

Ao chegar ao resultado desejado é feita uma cópia “bonne à tirer” (boa para imprimir – b.p.i.). A tiragem final deve ser aprovada pelo artista, que, então, assina a lápis, coloca a data, o título da obra e numera a série.

Ao fim da edição, a matriz deve ser destruída ou inutilizada. Cada imagem impressa é um exemplar original de gravura e o conjunto destes exemplares é denominado tiragem ou edição. Em uma tiragem de 100 gravuras, as obras são numeradas em frações: 1/100, 2/100 etc.

Técnicas de gravura:

·     Litografia (matriz de pedra): a litografia (lithos = pedra e graphein = escrever) foi criada no ano de 1796 por Alois Senefelder.

·     Xilogravura (matriz de madeira): surgiu como consequência da demanda cada vez maior de consumo de imagens e livros sacros, a partir da invenção da imprensa por Gutenberg, quando as iluminuras e códigos manuscritos passaram a ser um luxo de poucos. A gravura em madeira seria um meio econômico de substituir o desenho manual, imitando-o de forma ilusória e permitindo a reprodução mecânica de originais consagrados. A técnica ainda é bastante difundida nas ilustrações da literatura de cordel.

No Maranhão há o gravurista Airton Marinho, conhecido nacionalmente e ganhador de diversos prémios por seu trabalho em xilogravura colorida e que retrata a cultura local.

Imagem de uma obra do artista.  


·      
Calcografia (matriz de metal): surgiu nos ateliês de ourivesaria e de armaduras, no século XV, onde era usual imprimir-se os desenhos das joias e brasões em papel para melhor visualização das imagens. A técnica foi explora por muitos artistas através dos tempos, como Goya entre os períodos Neoclássico e Romântico. 


No filme “As sombras de Goya”, o artista faz uma demonstração da técnica em uma das cenas, comentada no video:



·          Serigrafia (matriz de seda ou náilon): também conhecida como silk-screen (tela de seda) é um processo de impressão, no qual a tinta é vazada – pela pressão de um rodo ou puxador – através de uma tela preparada com princípios fotográficos de captação da imagem. É utilizada na impressão em variados tipos de materiais e pode ser feita de forma mecânica (por pessoas) ou automática (por máquinas).

 

Escultura

É uma arte visual que representa imagens usando a tridimensionalidade do espaço, pode parcial (o caso do relevo) ou total. Os processos de atividade escultórica datam da pré-história e sofreram significativas mudanças através dos tempos, no uso variado de técnicas materiais utilizados (pedra, metal, argila, gesso ou madeira).

A técnica da modelagem consiste em elaborar esculturas utilizando materiais flexíveis, facilmente manipulável com o uso das mãos, como a cera, o gesso e a argila.

No caso da argila, a escultura será posteriormente cozida, tornando-se resistente, resultando na cerâmica. A modelagem é, também, o primeiro passo para a confecção de esculturas através de outras técnicas, como a fundição e a moldagem.

A técnica do entalhe é um processo onde o artista trabalha cortando ou extraindo o material em excesso (madeira, por exemplo) até obter a forma desejada.

Outra técnica utilizada para a escultura é fundição de metal (ferro, cobre ou bronze – da liga entre vários metais, por suas qualidades e especificidades que pedem o objeto a ser produzido, ou local onde será alocado)

 A fundição requer um processo complexo:

1- Começa com um modelo em argila

2- Faz-se o molde (fôrma) que será preenchido com cera, obtendo-se outra peça idêntica neste material, que poderá ser retocada, para corrigir algumas imperfeições derivadas do molde

3- O metal líquido é vazado dentro do molde, ocupando o lugar deixado pela cera. 4- A escultura de metal passa, então, por um processo final de recorte, de acabamento e tratamento contra corrosão ou ação do tempo.


Arquitetura

A Arquitetura é a organização do espaço tridimensional. É uma atividade humana existente desde que o homem deixou de se abrigar em cavernas.

Uma definição mais precisa da área envolve todo o design do ambiente construído pelo homem, o que engloba desde o desenho de mobiliário (desenho industrial) até o desenho da paisagem (paisagismo) e da cidade (urbanismo), passando pelo desenho dos edifícios e construções (considerada a atividade mais comum dos arquitetos).

O trabalho do arquiteto envolve, portanto, toda a escala da vida do homem, desde a manual até a urbana.

A Arquitetura depende ainda, necessariamente, da época da sua ocorrência, do meio físico e social a que pertence, da técnica decorrente dos materiais empregados e, finalmente, dos objetivos e dos recursos financeiros disponíveis para a realização da obra.

Para Carlos Lemos, a “Arquitetura desenha a realidade urbana que acomoda os seres humanos no presente”. Mas, teve seu esplendor e imaginação criativa no Período Medieval, na Idade Média não foi um período de “trevas” para arte, muito menos para a arquitetura.

E, ainda, cinco das sete maravilhas do mundo antigo são obras arquitetônicas: A Pirâmide de Gizé, os Jardins Suspensos da Babilônia, O templo de Ártemis, O Mausoléu de Halicarnasso e o Farol de Alexandria.

A arquitetura brasileira tem um expoente brasileiro. Oscar Niemeyer que assina o fascinante projeto da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Aparecida, em Brasília, o Museu de Arte de Niterói e a Praça Maria Aragão em São Luís. 


Imagem do Museu de Arte de Niterói 

A imagem acima é uma fotografia de Gustavo Mello Perlingeiro.


VAMOS PRATICAR?

QUESTÕES DE PROVAS JÁ APLICAS QUE SE RELACIONAM AO CONTEÚDO:

Questão 1 (Enem 2018)




 As duas imagens são produções que têm a cerâmica como matéria-prima. A obra Estrutura vertical dupla se distingue da urna funerária marajoara ao 

a)    evidenciar a simetria na disposição das peças.

b)    materializar a técnica sem função utilitária.

c)    abandonar a regularidade na composição.

d)    anular possibilidades de leituras afetivas.

e)    integrar o suporte em sua constituição.

Resposta:

Letra B

Questão 2 (Enem 2018)

ROSA, R. Grande sertão: veredas: adaptação da obra de João Guimarães Rosa.
São Paulo: Globo, 2014 (adaptado).

A imagem integra uma adaptação em quadrinhos da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Na representação gráfica, a inter-relação de diferentes linguagens caracteriza-se por

 

a)    romper com a linearidade das ações da narrativa literária.

b)    ilustrar de modo fidedigno passagens representativas da história.

c)    articular a tensão do romance à desproporcionalidade das formas.

d)    potencializar a dramaticidade do episódio com recursos das artes visuais.

e)    desconstruir a diagramação do texto literário pelo desequilíbrio da composição.

Resposta: Letra D

 

Questão 3 (Enem 2014)

Cordel resiste à tecnologia gráfica

O Cariri mantém uma das mais ricas tradições da cultura popular. É a literatura de cordel, que atravessa os séculos sem ser destruída pela avalanche de modernidade que invade o sertão lírico e telúrico. Na contramão do progresso, que informatizou a indústria gráfica, a Lira Nordestina, de Juazeiro do Norte, e a Academia dos Cordelistas do Crato conservam, em suas oficinas, velhas máquinas para impressão dos seus cordéis.

A chapa para impressão do cordel é feita à mão, letra por letra, um trabalho artesanal que dura cerca de uma hora para confecção de uma página. Em seguida, a chapa é levada para a impressora, também manual, para imprimir. A manutenção desse sistema antigo de impressão faz parte da filosofia do trabalho. A outra etapa é a confecção da xilogravura para a capa do cordel.

As xilogravuras são ilustrações populares obtidas por gravuras talhadas em madeira. A origem da xilogravura nordestina até hoje é ignorada. Acredita-se que os missionários portugueses tenham ensinado sua técnica aos índios, como uma atividade extra catequese, partindo do princípio religioso que defende a necessidade de ocupar as mãos para que a mente não fique livre, sujeita aos maus pensamentos, ao pecado. A xilogravura antecedeu ao clichê, placa fotomecanicamente gravada em relevo sobre metal, usualmente zinco, que era utilizada nos jornais impressos em rotoplanas.

VICELMO, A. Disponível em: www.onordeste.com. Acesso em: 24 fev. 2013 (adaptado)

A estratégia gráfica constituída pela união entre as técnicas da impressão manual e da confecção da xilogravura na produção de folhetos de cordel

a)    realça a importância da xilogravura sobre o clichê.

b)    oportuniza a renovação dessa arte na modernidade.

c)    demonstra a utilidade desses textos para a catequese.

d)    revela a necessidade da busca das origens dessa literatura.

e)    auxilia na manutenção da essência identitária dessa tradição popular.

Resposta: Letra E

 

Questão 4 (Enem 2014)


CLARK, L. Bicho de bolso. Placas de metal, 1966

O objeto escultórico produzido por Lygia Clark, representante do Neoconcretismo, exemplifica o início de uma vertente importante na arte contemporânea, que amplia as funções da arte. Tendo como referência a obra Bicho de bolso, identifica-se essa vertente pelo(a)

a)     participação efetiva do espectador na obra, o que determina a proximidade entre arte e vida.

b)     percepção do uso de objetos cotidianos para a confecção da obra de arte, aproximando arte e realidade.

c)     reconhecimento do uso de técnicas artesanais na arte, o que determina a consolidação de valores culturais.

d)     reflexão sobre a captação artística de imagens com meios óticos, revelando o desenvolvimento de uma linguagem própria.

e)     entendimento sobre o uso de métodos de produção em série para a confecção da obra de arte, o que atualiza as linguagens artísticas.

Resposta: Letra A

 

Questão 5 (Enem 2019)

Na obra Cabeça de touro, o material descartado torna-se objeto de arte por meio da

a) reciclagem da matéria-prima original.

b)    complexidade da combinação de formas abstratas.

c)    perenidade dos elementos que constituem a escultura.

d)    mudança da funcionalidade pela integração dos objetos.

e)    fragmentação da imagem no uso de elementos diversificados.

 

Resposta: Letra D

 

Questão 6 (Enem 2019)


Fotografia de Jackson Pollock pintando em seu ateliê, realizada por Hans Namuth em 1951.

CHIPP, H. Teorias da arte moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

 

                          e

 


 MUNIZ, V. Action Photo (segundo Hans Namuth em Pictures in Chocolate). Impressão fotográfica. The Museum of Modern Art, Nova Iorque, 1977.

NEVES, A. História da Arte 4. Vitória: Ufes – Nead, 2011. 

 Utilizando chocolate derretido como matéria-prima, essa obra de Vick Muniz reproduz a célebre fotografia do processo de criação de Jackson Pollock. A originalidade dessa releitura reside na

a)    apropriação parodística das técnicas e materiais utilizados.

b)    reflexão acerca dos sistemas de circulação da arte.

c)    simplificação dos traços da composição pictórica.

d)    contraposição de linguagens artísticas distintas.

e)    crítica ao advento do abstracionismo.

Resposta: Letra A

Referências

Artes Visuais: conheça as técnicas e os materiais artísticos utilizados. Pesquisado: https://arteref.com/arte-no-mundo/artes-visuais-conheca-as-tecnicas-e-os-materiais-artisticos/, em 19/01/2021.

BOZZANO, Hugo. Arte em Interação. São Paulo: Ibep, 2013.

FERRARI, Solange dos Santos Utuari. Arte por toda parte: volume único. 2. Ed. São Paulo: FTD, 2016.

GOITIA, Fernando Chueca. (Org.). História Geral da Arte: Pintura VI. Espanha: Ed. Del Prado, 1995.

LEMOS, Carlos. O que é arquitetura. São Paulo: Brasiliense, 2003.

Questões do ENEM e gabaritos: https://descomplica.com.br/gabarito-enem/, acesso em 20/01/2021.

REIS, Eliana Vilela dos. Manual compacto de Arte – ed. Rideel – 2010.

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