sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

ARTE E CULTURA GRECO-ROMANA: O nascimento do CLÁSSICO

Sítio arqueológico de Baelo Claudia, em Andalusia, Espanha, 2018. 

ARTE GRECO-ROMANA

Ao longo da história da humanidade absorvemos, influenciamos ou somos influenciados por culturas que mantivemos qualquer tipo de contato, pois alguma forma de arte existe em todas as partes do globo, mas a história da arte como um esforço contínuo não tem seu princípio ou fim definido. Mas há a continuidade transmitida de mestre a discípulo, e de discípulo a admirador ou copista, o que ligaria a arte do vale do Nilo de cerca de cinco mil anos atrás à produção do povo grego. Pois veremos que os mestres gregos “frequentaram” a escola dos egípcios (parafraseando o historiador de arte austríaco Ernst Hans Josef Gombrich) e todos nós somos discípulos dos povos gregos e também dos povos romanos que foram influenciados de forma linear e transitória pelos mesmos.

A influência dos gregos e romanos pode ser verificada ao longo da história da humanidade, a partir de sua própria existência...

Assim, na Idade Média, negando seus preceitos e cânones, depois resgatada nos períodos posteriores como o Renascimento (cuja nomenclatura já os requisita de forma direta, no século XIV) e o Neoclassicismo (onde a nomenclatura os trata como o “novo clássico”, fomentado pela descoberta das ruínas da cidade de Pompéia, soterrada pelas lavas do vulcão Vesúvio). Esta influência perdura e se reinventa, sempre negando ou exaltando os “clássicos”, nas mais diferentes representações artísticas, culturais e sociais.

A palavra clássico deriva do latim classicus, que significa um cidadão da mais alta classe, de extremo valor, segundo o pesquisador da história da música, Roy Bennett. Desta forma, falamos clássicos a obras com grande estima e reconhecimento universal: Shakespeare é um “clássico” da literatura e os gregos e romanos “clássicos” para a filosofia, sociologia, matemática, política, música, arquitetura, escultura e para a literatura.

 Servem de referências e bases para a nossa cultura geral.

ARTE GREGA

Evolução da representação técnica na escultura masculina, visualizado: https://br.pinterest.com/pin/359302876497601334/, acesso em 29/07/2020.

A arte grega costuma ter seu estudo dividido em três períodos que demarcam, em sua temporalidade, modificações substanciais e acréscimos de rebuscamentos:

Período Arcaico

Nos primeiros séculos, a produção escultórica do povo grego se assemelhava à dos egípcios em rigidez. Mas, sabemos que os egípcios baseavam sua arte no próprio reconhecimento. Mas os gregos começaram a usar os próprios olhos, não a representação deles. Uma vez iniciada essa revolução, os escultores em suas oficinas ensaiaram novas ideias e novos modos de composição da figura humana, e cada inovação era avidamente adotada por outros. O homem jovem era representado nú (essas estátuas eram chamadas de “Kouros”) e as moças eram representadas vestidas (korés).

A sua cerâmica era decorada com padrões geométricos simples e, quando se queria representar uma cena, esta formava parte do desenho com austeridade e rigor.

Evolução da representação técnica na escultura feminina, visualizado: https://br.pinterest.com/pin/67835538115476935/, em 29/07/2020.

Período Clássico

Quando a arte passa a apresentar grande apuro técnico, com a criação de cânones e regras para a representação pautada na natureza, tanto para figura humana quanto para a arquitetura e a pintura. Com a utilização de formas idealizadas, mais belas que o normal, representação de atletas em pleno movimento e mulheres com vestes esvoaçantes, como representação dos deuses (os gregos eram politeístas!), tudo podendo ser detalhado em esculturas que servem como enfeites dos templos. Neste período percebemos maior indução de movimento nas estátuas, para isto, começa a utilização do bronze que era mais resistente do que o mármore, podendo fixar o movimento sem que os membros (braços, pernas) se quebrem.  Na pintura da cerâmica, há o destaque no uso de tintas vermelhas sobre o fundo negro, percebemos a pintura com maior dinamismo, realismo, naturalismo e expressividade. Foi o período em que a democracia ateniense atingira seu nível mais elevado e que a arte grega deu início a um grande desenvolvimento.


O corpo naa obras de arte da Grécia Antiga #vivieuvi

Período Helenístico

Teve influência oriental da macedônia, com a arte mais decorativa e suntuosa. Quando o apogeu técnico, estético e conceitual do povo grego foi atingido e, por fim, seu declínio. Aprimoraram uma multiplicidade de usos e técnicas, como a da encáustica sobre gesso e mármore pela aplicação de cera derretida, criação de mosaicos, que adquirem detalhismo e refinamento. As esculturas ganham intensa expressividade e teatralidade, emotividade e riqueza de detalhes, feitas em bronze (o domínio da técnica escultórica em mármore será alcançado apenas pelos romanos, que copiarão as obras gregas e usarão o bronze para fazerem armamentos). A arte helênica conservou ainda algumas direções clássicas puras idealizadoras do objeto, mas a tendência, todavia, é para o aumento de imaginação e liberdade, a arte passa a superar o equilíbrio clássico, por sua dinamicidade.


A arquitetura tinha seu planejamento matematicamente calculado. Nos templos, eram colocadas esculturas decorativas nos frisos e frontões (observe na imagem do templo), Eram muitas vezes pintadas em cores vivas, mas praticamente nada dessa decoração chegou até nós. Este modelo repercutiu largamente em todo o território grego, assumindo, porém, muitas variações que dependiam de preferências locais ou do orçamento disponível, com regras de composição pautadas na precisão geométrica do uso do retângulo áureo, inventado por este povo, e hoje nos serve de base para o corte de uma folha de papel que compramos em resmas para impressão de atividades (tamanho A4), no caderno que utilizamos para escrever (A5, o pequeno - ou A4 o grande, com o dobro do tamanho), e no cartão do banco, que passamos no caixa eletrônico para pagar nossas compras).

Na arquitetura grega foram desenvolvidos três estilos ou ordens: a ordem dórica, jônica e a coríntia (empregadas respectivamente nos períodos arcaico, clássico e helenístico). Imagem visualizada: http://pontozeroum.blogspot.com/2016/01/colunas-gregas.html, acesso 29/07/2020.

Outra das invenções importantes da arquitetura grega foi o anfiteatro, geralmente construído na encosta de uma colina, aproveitando as características favoráveis do terreno para ajustar as arquibancadas semicirculares. No centro do teatro ficava a orquestra, e ao fundo o palco, decorado com um cenário arquitetônico fixo.

Imagem de um anfiteatro na antiga cidade de Myra, na Lycia, onde atualmente ocupa região da Turquia. visualizada: https://br.pinterest.com/pin/85568461654535623/, acesso em 29/07/2020.

No âmbito das artes cênicas, os gregos fundaram gêneros que até hoje organizam as várias modalidades do teatro contemporâneo. A tragédia e a comédia aparecem como textos em que os costumes, instituições e dilemas da existência eram discutidos através da elaboração de narrativas e personagens bastante elaboradas. Tendo grande prestigio entre a população, o teatro atraía os olhares de várias pessoas que se reuniam para admirar e discutir as peças encenadas publicamente.


 

ARTE ROMANA

A estética romana teve por base a estética da cultura greco-helenística, que aos poucos foi adquirindo características próprias, na construção de uma arte que atendia com praticidade o modo de vida e necessidades dos romanos. A temporalidade é aproximada de 753 a.C. (quando a cidade de Roma é fundada) até 476 d.C. (com o fim do Império Romano), um império que durou cerca de mil anos.

Assim como os gregos, eram politeístas, absorvendo a mesma religiosidade e suas características, adotando a mudança dos nomes de alguns deuses do panteão grego. Assim, Afrodite se transformou em Vênus, Ares virou Martes, Hera – esposa de Zeus - foi chamada de Juno pelos romanos, e o Zeus grego (soberano do olimpo), se converteu em Júpiter.

Herdeiros da arte grega, os romanos espalharam suas esculturas, pinturas e mosaicos por todo território que conquistavam, igualmente, construíam teatros onde podiam ser representadas peças que serviam para instruir e divertir a população. Em algumas cidades eram levantadas arenas para jogos de gladiadores, recriações de batalhas, lutas entre homens e animais selvagens (o anfiteatro romano era construído a céu aberto e em vários pavimentos, diferente do grego que aproveitava o relevo das encostas de montanhas).

Imagem do Teatro Coliseu, em Roma, capital da Itália. Visualização: https://www.maxmilhas.com.br/blog/guia-de-destinos/viagem-para-a-italia-o-guia-ideal-para-voce, em 30/07/2020.

A arquitetura romana deriva da arquitetura grega, embora diferenciando-se por algumas características ou agregando-as, por isso alguns autores agrupam ambos estilos designando-os por arquitetura clássica. Alguns tipos de edifícios característicos deste estilo propagaram-se por toda a Europa, em particular, o aqueduto, a basílica, a estrada romana, o domus, arcos do triunfo, e o Panteão. Os monumentos romanos se caracterizam pela solidez; aprenderam com os etruscos o emprego do arco, assim como a abóbada ou teto curvo e o cimento hidráulico. Construíram também catacumbas, fontes, obeliscos e templos.

Os romanos abastados prezavam pelo conforto e, geralmente, nas casas dos patrícios havia água encanada. Se o rio não estivesse perto da cidade, um aqueduto era levantado para trazer água à população que a recolhia nas fontes instaladas na cidade. (Aquedutos são sistemas de transporte de águas feitos na forma de pontes, sustentadas por arcos superpostos).

Imagem do aqueduto da cidade de Segóvia, Espanha, visualizada: https://fuigosteicontei.com.br/segovia-espanha-la-que-fica-o-castelo-que-inspirou-walt-disney/, em 30/07/2020.

As termas eram as casas de banho, que usavam água aquecida, caracterizando alto grau de higiene dessa civilização.

Roma propiciou a primeira experiência republicana da história. A Civilização ainda contribuiu grandemente para o desenvolvimento do direito, arte, literatura, arquitetura, tecnologia, religião, governo, e da linguagem no mundo ocidental e sua história continua a ter uma grande influência sobre o mundo de hoje.

Na técnica como expressão, a pintura romana é uma variante da pintura grega das fases clássica e helenística. Apenas, por ser de caráter prático, o romano acentuou as finalidades decorativas, aplicando com maior frequência à arquitetura, dando-lhe forte realismo.

Imagem da pintura “Quíron e Aquiles”, um afresco da cidade de Herculano, soterrada pelo vulcão Vesúvio, hoje a cidade é um museu à céu aberto, Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, na Itália. O centauro Quíron ensina Aquiles a tocar a lira. Visualização: https://www.wikiwand.com/pt/Quíron, em 30/07/2020.

Os afrescos da cidade de Pompéia, soterrada também pelo vulcão Vesúvio no séc. I a.C., representam bem este período antigo, na pintura mural, na forma de afrescos. Com cenas do cotidiano, figuras mitológicas, religiosas e conquistas militares. Usavam tintas feitas com materiais retirados da natureza, como de metais ou pedras em pó, substâncias retiradas da madeira ou extraídas de moluscos, vidros pulverizados e seivas de árvores.

Afresco é uma técnica de pintura mural, executada sobre uma base de gesso, cal ou argamassa ainda úmida, por isso o nome derivado da expressão italiana fresco, de mesmo significado no português, na qual o artista deve aplicar pigmentos puros diluídos somente em água. Dessa forma, as cores penetram no revestimento e, ao secarem, passam a integrar a superfície em que foram aplicadas, ganha grande durabilidade.


As pinturas chamadas “trompe l’oeil” (que significa ilusão de ótica) se tornaram mais usuais e variadas, com a multiplicação de elementos simulados de arquitetura, oferecendo vistas de paisagens urbanas e jardins, evidenciando um uso bastante correto da perspectiva para dar a impressão de tridimensionalidade e ilusionismo ao ambiente. Imagem de pintura em uma parede na cidade de Pompéia, visualização: https://pompeiiinpictures.org/VF/Villa_016_p7.htm, em 30/07/2020.

A Escultura romana também é fortemente inspirada na grega. Algumas estátuas representavam o imperador ou chefes políticos e militares famosos e eram colocadas em lugares públicos, outras representavam deuses. Também foram esculpidos bustos, retratando membros das famílias imperiais ou abastadas e baixos-relevos narrativos em arcos de triunfo e colunas, como forma de comemorar os feitos notáveis do Imperador.

Imagem “Augusto de Prima Porta”, mármore, 2,08 metros, 0,12 metro x 1,3 metro, localizado no Museu do Vaticano. Visualizada: http://beatrizlagoa.com.br/beatrizlagoa/romanos/, em 30/07/2020.


Além da grande produção de esculturas romanas, havia o hábito generalizado da cópia de obras gregas mais antigas e a permanência de alusões ao classicismo grego ao longo de toda sua história, mesmo através do Cristianismo primitivo, manteve vivas uma tradição e uma iconografia que de outra forma poderia ter-se perdido.


Ruínas, localizadas na baía de Bolonha em Tarifa. Trata-se de uma antiga povoação romana que confirma a importância deste local estratégico nos tempos antigos. Um dos mais importantes achados romanos, não só da Andaluzia, mas de toda a península, é o SITIO ARQUEOLÓGICO de Baelo Claudia.



Neste local, praticava-se uma economia baseada na pesca, no fabrico de conservas, salga de peixe e comércio com as embarcações que se deslocavam de um lado para outro lado nas Colunas de Hércules.



Também se elaborava o famoso molho garum de Cádiz. Nas ruínas, o bairro industrial está situado junto à praia, perto das tabernas.



Baelo Claudia, ruínas romanas de Bolonia, sul da Espanha, pertinho da cidade de Tarifa.

 


POMPÉIA 


Nas aulas, sugiro os slides:
Arte Grega: 

Arte Romana: 
https://docs.google.com/presentation/d/1PZVdmwJSMTYA4GTLr1xBm-wMEI0WndUB/edit?usp=sharing&ouid=100787546922949216228&rtpof=true&sd=true.

QUESTÕES DE PROVAS JÁ APLICAS QUE SE RELACIONAM AO CONTEÚDO:

 

Questão 1 (Ueg 2013)

Analise a imagem. 

Augusto de Prima Porta, esculpida por volta de 19 a.C., é uma típica escultura da Roma antiga. A diferença dessa escultura em relação às gregas do período clássico está:

a) na monocromia, indicando maior austeridade dos costumes romanos em comparação com os dos gregos.   

b) na postura ereta e estática, demonstrando que as esculturas gregas retratavam o movimento dos corpos.   

c) no caráter político, já que as esculturas gregas priorizavam temas da mitologia religiosa.   

d) no uso da indumentária militar na composição da obra, uma vez que as esculturas gregas valorizavam o corpo humano.

 

Resposta: Letra C

 

Questão 2 (Ufsm 2012)

 Observe as imagens:

 


Com base nas gravuras, reflita a respeito da Antiguidade Clássica e analise as afirmativas a seguir.

I. A Civilização Grega não sofreu influência dos egípcios nem dos povos do Oriente Médio. Sua cultura esgotou-se entre os gregos e sua originalidade foi reconhecida apenas com o Renascimento Cultural.

II. A arte do período clássico evidenciou o ideal grego de harmonia e equilíbrio, percebido tanto na representação da figura humana quanto no projeto de sociedade, a pólis.

III. A arte do período helenístico expressou uma dramaticidade que pode ser entendida como expressão das tensões do mundo grego da época: a derrocada da pólis autônoma e independente e a formação de grandes reinos.

IV. Ao conquistar e dominar as cidades gregas, o Império Romano manteve o seu projeto original (oriundo das culturas itálicas) e ignorou a cultura helênica.

Está(ão) correta(s)

a) apenas I e II.   

b) apenas II e III.   

c) apenas I, II e III.   

d) apenas III e IV.   

e) apenas IV.   

 Resposta: Letra B

 

 Questão 3 (Enem 2011)

 



Brasília 50 anosVeja. N° 2 138, nov. 2009.

Utilizadas desde a Antiguidade, as colunas, elementos verticais de sustentação, foram sofrendo modificações e incorporando novos materiais com ampliação de possibilidades. Ainda que as clássicas colunas gregas sejam retomadas, notáveis inovações são percebidas, por exemplo, nas obras de Oscar Niemeyer, arquiteto brasileiro nascido no Rio de Janeiro em 1907. No desenho de Niemeyer, das colunas do Palácio da Alvorada, observa-se

a)    a presença de um capitel muito simples, reforçando a sustentação.

b)    o traçado simples de amplas linhas curvas opostas, resultando em formas marcantes.

c)    a disposição simétrica das curvas, conferindo saliência e distorção à base.

d)    a oposição de curvas em concreto, configurando certo peso e rebuscamento.

e)    o excesso de linhas curvas, levando a um exagero na ornamentação.

 

Resposta: Letra B

A partir da interpretação da imagem e do texto, é possível perceber que as colunas têm traços modernos, principalmente, se compararmos com as informações do enunciado, que nos informa que tais colunas sofreram modificações e incorporaram novos materiais com ampliação de possibilidades, o que pode ser evidenciado na obra de Oscar Niemeyer.

 

Referências

BOZZANO, Hugo B. Arte em interação. Volume único. São Paulo: Ibep, 2013.

COSTA, Francisca. Arte Grega. Acesso: https://drive.google.com/file/d/1zHAS4iTVIOy8x75w_IL_8s0zPbV15ek-/view?usp=sharing, em 30/07/2020.

Dominici, Marcos. Grécia – Artes Visuais.

https://drive.google.com/file/d/1bvRX4PVTsUVSNRxBuk4JLQaB-OO1Ps1t/view?usp=sharing, acesso em 29/07/2020.

Enciclopédia Itaú cultural: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo26/afresco, acesso em 30/07/2020.

FERRARI, Solange dos Santos Utari. Arte por toda parte: volume único. 2. Ed. São Paulo: FTD, 2016.

GOMBRICH, E. H. A História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

REIS, Eliana Vilela dos. Manual compacto de Arte – ed. Rideel – 2010.


*Texto produzido em 2020 para a Plataforma Gonçalves Dias, preparativo pré-vestibular do Governo do Estado do Maranhão. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário